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220 milhões de idosos da China podem mudar mundo: Bloomberg View

Adam Minter

30/05/2017 13h58

(Bloomberg) -- Durante décadas, a Nestlé tentou colocar seu leite em pó para lactantes nas mãos das novas mães da China com promessas de bebês mais inteligentes e saudáveis. Agora, a empresa está tentando fazer o mesmo com os idosos. Na semana passada, a companhia lançou o leite em pó "Nestle YIYANG Fuel for brainTM", uma fórmula desenvolvida para ajudar os idosos da China a "recarregar o cérebro e começar uma nova vida inteligente".

O anúncio não gerou o mesmo barulho que os produtos voltados à geração Y da China. Mas poderia ter ainda mais repercussão. Com 222 milhões de pessoas acima dos 60 anos, a China possui a maior população de idosos do mundo, cuja influência econômica deverá disparar nos próximos anos. Segundo uma estimativa, o valor dos produtos e serviço dirigidos a essa faixa etária poderá chegar a 33 por cento do produto interno bruto até 2050.

Se essa tendência se mantiver, o cuidado dos idosos será o setor dominante da China em meados do século e os mais velhos serão a principal faixa etária do país. Isto apresenta uma série de desafios para o governo -- mas também algumas grandes oportunidades para as empresas.

Os idosos já desempenham papel importante na mudança da economia chinesa das exportações para o consumo. Fan Min, presidente do maior site de viagens da China, prevê que os mais velhos serão o principal motor do mercado de turismo do país dentro de uma década. Cerca de 5 milhões deles estão viajando ao exterior todos os anos e esse número deverá mais que dobrar até 2030. Conforme eles se aventuram fora do país, o setor de viagens se ajusta a suas demandas (oferecendo mais passeios em grupo e hospedagem mais barata, por exemplo). E a questão não se resume ao turismo: nos últimos anos, negócios de todos os tipos, desde empresas automotivas até mercados on-line, elaboraram recursos voltados aos idosos da China.

A saúde é outro setor que pode ser transformado. Diferentemente do Japão e da Europa Ocidental, a China está envelhecendo antes de enriquecer o suficiente para desenvolver as instituições -- asilos geriátricos, por exemplo -- necessárias para sustentar uma população idosa maior. O setor privado está entrando no jogo cada vez mais. Entre aqueles que não podem pagar por viagens ao exterior, os cuidados preventivos privados estão se tornando muito mais comuns. Em outras partes, as empresas estão desenvolvendo produtos "de assistência inteligente", nos quais aparelhos conectados à internet monitoram a saúde dos clientes. Pequim está expandindo um programa que usa um cartão de descontos em compras para monitorar os idosos e aplicar análises de dados para prever suas necessidades.

A Nestlé entende claramente essas tendências. No lançamento de seu novo leite em pó para idosos, um representante da empresa disse à imprensa: "Como diz um velho ditado chinês, 'a dieta cura mais que os médicos'". A longo prazo, essa atitude -- combinada a investimentos em inteligência artificial focada na saúde e em megadados de empresas como Alibaba Group e Baidu -- podem muito bem reformular o setor de saúde, tanto na China quanto globalmente.

Mas a área na qual a China possui a maior influência no mercado por serviços para idosos provavelmente será a de habitação. Até 2015, a China tinha uma média de apenas 26 leitos para cada 1.000 idosos. Nas próximas décadas, é improvável que o governo consiga construir -- e muito menos contratar equipes para -- instalações suficientes para atender às demandas de sua crescente população idosa. Como resultado, o governo precisará desenvolver modelos novos e mais criativos de assistência geriátrica.

O significado disso pode ser uma automação maior (existe pelo menos um programa-piloto robótico em Hangzhou). Outro resultado possível é o atendimento em casa, com o apoio de uma rede de serviços solicitados pela internet e entregues em casa (especialmente alimentos). E isso certamente significará uma expansão dos monitores inteligentes e da tecnologia para interpretar os dados que eles coletam. Devido ao tamanho do mercado potencial, há motivos para acreditar que os empreendedores da China conseguirão descobrir modelos de baixo custo que funcionem no país -- e possivelmente também no exterior.

No caso da atual geração de idosos da China, o fato de chegar à velhice em um momento de isolamento global e de dificuldades domésticas oferece um nível de influência que poucos poderiam imaginar em sua juventude.

Essa coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial nem da Bloomberg LP e seus proprietários.