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Big data pode dizer muito sobre pessoas e suas hipotecas

Matt Scully

29/06/2017 12h33

(Bloomberg) -- A TheNumber sabe bastante sobre os americanos que contraíram empréstimos para comprar residências.

A startup com sede em Nova York reúne informações de empresas de marketing, declarações públicas de empréstimos, tribunais e dezenas de outras fontes e as vende a traders de títulos e empréstimos hipotecários. A riqueza dos detalhes revelados pela empresa -- os tipos de lojas nos quais os mutuários tendem a comprar e informações sobre se alugam suas residências na Airbnb, por exemplo -- pode irritar os defensores do direito à privacidade, mas representam uma vantagem para os investidores que tentam descobrir qual a propensão dos proprietários de imóveis para pagar suas obrigações.

"Podemos fazer coisas que antes não eram possíveis", disse Hans Thomas, um ávido empreendedor que ajudou a fundar a empresa em 2015 com Guhan Kandasamy e Ziggy Jonsson. A compilação das informações que a empresa oferece antigamente demorava semanas ou até meses, mas agora é concluída em segundos. No mundo das finanças, as startups estão usando big data para tentar ampliar o sucesso de Wall Street em diversas frentes, como empréstimos ao consumidor e negociação de ações.

Preocupação com a privacidade

Ter um bom conjunto de dados é fundamental para os investidores do mercado de títulos hipotecários, de US$ 9 trilhões. No caso dos títulos subprime, os preços podem variar fortemente em função da diferença de qualidade dos empréstimos em que estão lastreados, e a capacidade de comparar títulos com rapidez pode ser a diferença entre fechar um bom negócio ou comprar gato por lebre. O gerente de fundos médio pode ganhar 0,40 a 0,70 ponto percentual em retorno usando dados mais inteligentes ao negociar hipotecas, pelo menos no caso de financiamentos imobiliários não agrupados como títulos, segundo John Ardy, CEO da Resitrader, um mercado institucional para empréstimos imobiliários.

Mas fornecer tanta informação sobre hipotecas, e tão rapidamente, aos investidores começa a gerar novas preocupações entre os órgãos de defesa do consumidor, que temem que os mutuários possam perder privacidade ou mesmo sofrer discriminação.

"Estamos preocupados com a forma como essa informação é compartilhada e com os possíveis efeitos adversos para os indivíduos, sem que sequer percebam", disse Lee Tien, advogada sênior da Electronic Frontier Foundation, uma organização sem fins lucrativos focada nas liberdades civis no domínio digital.

Os consumidores podem não entender quanto de sua informação pode ser acessada pelos investidores em títulos. E os gestores de recursos que usam informações recebidas da TheNumber podem enfrentar acusações de discriminação contra mutuários com base em etnia ou religião, disse Frank Pasquale, professor da Faculdade de Direito Francis King Carey da Universidade de Maryland. Em fevereiro, a Agência de Proteção Financeira do Consumidor dos EUA solicitou comentários sobre os riscos e benefícios de usar dados alternativos.

Kandasamy e Thomas afirmam que a empresa mantém o anonimato de alguns dados e pode garantir que os diferentes profissionais de uma firma de investimentos vejam apenas as informações que têm permissão legal para ver. A empresa exige que os clientes concordem em não abusar dos dados e não fornece os nomes dos mutuários aos traders de títulos hipotecários. A companhia não coleta dados sobre a raça ou a religião dos mutuários.

"Os investidores de todos os outros mercados conseguem ver o que estão comprando - mas não os investidores em títulos hipotecários", disse Adam Murphy, fundador da Empirasign Strategies, uma empresa de dados de trading para profissionais do ramo de títulos hipotecários. "Eu acredito nos direitos à privacidade, mas os investidores precisam poder passar pela porta das propriedades se quiserem."