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Mecanismo de financiamento de energia limpa sai de cena nos EUA

Brian Eckhouse

10/07/2017 13h43

(Bloomberg) -- Os investidores perderam o entusiasmo por um dos principais mecanismos inventados pelos bancos para financiar a revolução da energia limpa.

A estrutura conhecida como yieldco repassa dividendos de geradoras de energia eólica e solar a investidores. As yieldcos captaram US$ 7,9 bilhões nos mercados em 2014 e 2015, mas apenas US$ 1 bilhão desde então, de acordo com a Bloomberg New Energy Finance (BNEF).

É mais uma consequência do colapso da promotora de yieldcos SunEdison. A forma de financiamento dos projetos de energia limpa mudou. No passado, essas empresas criavam yieldcos para comprar projetos já em operação e reciclavam o capital em novas instalações. Agora, se voltam para um universo maior, formado por seguradoras e fundos de pensão, para fornecer recursos e às vezes assumir o controle de ativos que geram renda.

"A ideia de obrigatoriedade de um ciclo virtuoso - a ideia de junção entre mercados e crescimento ? está morta", disse Mike Garland, presidente da yieldco Pattern Energy Group, em São Francisco, Califórnia. "O mercado está dizendo para nós irmos até ele por último, não primeiro. Quando tudo começou, o mercado vinha primeiro."

As yieldcos surgiram em 2013, quando a maior geradora independente de eletricidade dos EUA, a NRG Energy, lançou a NRG Yield. A controladora criou a yieldco para absorver geradoras de energia eólica e solar que havia construído ou comprado. A receita desses empreendimentos bancava os dividendos.

Segundo dados compilados pela Bloomberg, Pattern Energy e NRG Yield pagarão rendimento sobre dividendos em 12 meses de 6,4 por cento e 6,5 por cento, respectivamente. É o triplo do rendimento médio de 2,1 por cento das 500 componentes do índice Standard & Poor's.

A estrutura yieldco tornou-se importante vetor de crescimento do setor de energia renovável e surgiram pelo menos oito delas na América do Norte, além de entidades similares na Europa. Os investidores gostavam do conceito: apoiar a expansão da energia limpa e absorver os dividendos gerados pela venda de eletricidade garantida por contratos de longo prazo. E como as yieldcos prometiam comprar mais e mais projetos, os dividendos só aumentariam.

Menor interesse

No entanto, dificuldades - sobretudo os eventos que antecederam a quebra da SunEdison em abril de 2016 - impediram a formação de pelo menos três yieldcos e outras foram forçadas a captar privadamente em vez de acessar os mercados. A SunEdison contava com duas yieldcos para financiar compras aceleradas em mais de um continente. Houve tumulto e os investidores passaram a questionar se as empresas conseguiriam avançar rápido o suficiente para pagar mais dividendos. Os problemas da SunEdison contribuíram para perdas mais amplas no segmento de energia renovável que dificultaram captações.

Mas enquanto o modelo de negócio das yieldcos perdia a graça, surgiam novos compradores: seguradoras e fundos de pensão ávidos pela receita consistente das geradoras de energia eólica e solar. Paralelamente, o mercado de títulos verdes corria a galope. A emissão de títulos atrelados a projetos ambientais deve ultrapassar US$ 100 bilhões neste ano, ou 10 vezes mais do que em 2012, de acordo com a BNEF.

"O mercado de yieldcos ficou muito aquecido", disse Barry Gold, responsável pela Orix Infrastructure & Renewable Energy, em Nova York. "Mas todos nós sabemos como as coisas funcionam nos mercados financeiros: se uma porta se fecha, alguém abre uma janela."

--Com a colaboração de Will Wade

Versão em português: Patricia Xavier em Sao Paulo, pbernardino1@bloomberg.net.

Repórter da matéria original: Brian Eckhouse em New York, beckhouse@bloomberg.net.