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Políticos são alvo de esculacho no Brasil, e restaurantes sofrem

Bruce Douglas e Simone Iglesias

21/07/2017 12h10

(Bloomberg) -- Restaurantes, aeroportos e até cerimônias de casamento deixaram de ser espaços seguros para os políticos do Brasil, que estão sendo atacados porque eleitores indignados com as sagas aparentemente intermináveis de corrupção do País se rebelam contra políticos em público.

Uma deputada estadual ? filha do Ministro da Saúde ? precisou ser escoltada da cerimônia de seu próprio casamento sob um escudo de guarda-chuvas em Curitiba, na semana passada, porque oponentes irritados jogaram ovos e gritaram acusações de corrupção. Este foi um dos mais extremos exemplos da manifestação de descontentamento dos cidadãos com políticos em momentos de lazer.

Enquanto a Operação Lava Jato crescia, e a economia mergulhava na pior recessão de sua história, filmagens de cidadãos brasileiros furiosos reclamando com políticos se multiplicavam no YouTube. Cerca de um sexto dos legisladores brasileiros, ou 91 dos 594 senadores e deputados do País, são suspeitos de envolvimento no escândalo, de acordo com Congresso em Foco, um site independente de notícias do Congresso. Enquanto isso, Michel Temer tornou-se o primeiro presidente brasileiro em exercício a ser denunciado por corrupção.

Os legisladores, antigamente orgulhosos de seu status, tentam não chamar a atenção, e alguns retiram seus botons oficiais do Congresso antes de se aventurar em público. Os restaurantes da capital, que costumavam prosperar, estão tendo dificuldades com a redução de sua clientela política.

Com paredes enfeitadas com fotos em preto e branco dos principais políticos dos últimos 50 anos, o Piantella de Brasília é, incontestavelmente, o restaurante preferido dos mais influentes na capital federal. Mas houve uma queda acentuada na quantidade de clientes congressistas nos últimos anos, de acordo com o sócio administrativo Roberto Peres.

"Desde a Lava Jato eles tendem a se esconder", disse ele. "Ainda tem alguns que vêm aqui, mas a grande maioria prefere não sair."

No entanto, nenhum incidente desagradável incomodou a elegante sala de jantar do Piantella e, em Brasília como um todo, os políticos costumam ser poupados de protestos comuns em outros lugares, devido ao fato de que grande parte da clientela dos restaurantes de luxo são outros políticos, funcionários públicos ou representantes de grupos influentes.

Em São Paulo, a associação comercial bares e restaurantes aconselhou seus integrantes a abster-se de escolher um lado entre a população e seus representantes eleitos como forma de minimizar os atos de hostilidade.

Denis Rezende, dono do Café Journal, reuniu todos os seus funcionários para estipular a regra. "Eu disse a eles que não cabe a nós julgar, deixamos isso às autoridades competentes", disse ele. "Dentro do restaurante, servimos a todos".

Para outro restaurante de São Paulo, Varanda Grill, o conselho chegou um pouco tarde. Um vídeo de clientes provocando o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha com gritos de "ladrão" viralizou. Desde então, o dono Sylvio Lazzarini estima que sua clientela política caiu em 80 por cento.

De acordo com Maurício Santoro, cientista político da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, atos de agressão desse tipo não são uma novidade, mas estão se tornando mais frequentes à medida que os brasileiros se indignam com a lentidão do judiciário para julgar os acusados de irregularidades.

"Esse tipo de ação individual é um ato simbólico", disse ele. "É uma válvula de escape para uma população profundamente frustrada."