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Consumidores dos EUA acumulam dívida de US$ 12,7 trilhões

Vince Golle

10/08/2017 14h08

(Bloomberg) -- Após uma desalavancagem no rescaldo da última recessão dos EUA, os norte-americanos voltaram a assumir um montante recorde de dívidas que pode frear a maior economia do mundo.

O saldo da dívida familiar -- que abrange tudo, desde hipotecas até cartões de crédito e financiamentos automotivos -- chegou a US$ 12,7 trilhões no primeiro trimestre, superando o pico anterior, de 2008, antes que os efeitos do colapso do mercado imobiliário fossem sentidos, mostram dados do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) de Nova York.

Para colocar os empréstimos em perspectiva, o montante é superior à economia chinesa e quase quatro vezes maior que a economia da Alemanha.

O fato de que as pessoas estejam tomando mais empréstimos não significa necessariamente que elas estejam confiantes em relação à sua perspectiva financeira. Elas assumem dívidas para cobrir necessidades como educação ou transporte e, em muitos casos, apenas para sobreviver.

Em uma análise superficial, a alta histórica dos passivos não é tão alarmante se o lado dos ativos da conta for levado em consideração. O patrimônio líquido familiar atingiu um recorde de US$ 94,8 trilhões graças à recuperação dos valores das residências e à alta das carteiras de ações.

Mas esse aumento beneficiou principalmente os mais ricos do país, disse Lance Roberts, estrategista-chefe de investimentos da Clarity Financial em Houston e editor do boletim informativo Real Investment Advice.

"Quando você observa o patrimônio líquido, nota que ele está fortemente inclinado para os 10% mais ricos", disse Roberts. "Para a família média de quatro pessoas o dinheiro não rende."

Para a maioria dos norte-americanos, cuja renda familiar média ajustada pela inflação é menor que no pico registrado em 1999, os empréstimos têm sido a resposta para manter o padrão de vida.

O aumento da dívida ajuda a explicar por que a principal fonte de combustível da economia está gerando menos impulso do que no passado. O crescimento médio das despesas pessoais foi de 2,4% desde o fim da recessão, em 2009, contra 3% na expansão anterior e 4,3% no período entre 1982 e 1990.

Uma análise sobre os salários dos trabalhadores mostra um cenário mais sombrio para os gastos discricionários para aqueles que não possuem muitos ativos. Embora a diferença entre a renda salarial e a dívida familiar tenha melhorado desde a última recessão, ela está se nivelando e continua sob pressão. A melhoria reflete também uma dívida hipotecária menor gerada pelo aumento das execuções hipotecárias em vez de uma recuperação nos ganhos.

"Este aumento da alavancagem reduziu nossa capacidade de gastar", disse Roberts. "Acho que estamos estagnados."

As ações podem estar em picos recorde, mas muitas famílias não estão participando do mercado, segundo pesquisa recente da Gallup.

A demografia também influi. A geração Y, nascida entre o início da década de 1980 e o fim da década de 1990, atualmente é a maior geração viva nos EUA. É também a mais exposta à sobrecarga gerada pela dívida estudantil.

O último relatório trimestral do Fed de Nova York sobre créditos e empréstimos às famílias mostra uma distensão em desenvolvimento, considerando que 11% da dívida educacional apresentava mais 90 dias de atraso ou estava inadimplente no primeiro trimestre.