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MiFID ameaça boletins matinais do mercado financeiro

John Glover

14/08/2017 15h19

(Bloomberg) -- Toda manhã, de segunda a sexta-feira, logo após as 8 horas em Londres, profissionais do mercado financeiro recebem um email com um animado "GOOD MORNING", que traz as percepções de Anthony Peters.

Nessa nota matinal, o estrategista da Sol Capital Advisory discute os eventos da véspera, os dados econômicos que saíram ou estão para sair e despeja veneno sobre alvos como a União Europeia, os bancos centrais e políticos.  Bill Blain, da Mint Partners, usa uma fórmula similar e sempre abre seu relatório com a letra de alguma música ou uma frase famosa. Jim Reid, do Deutsche Bank, inicia seu relatório diário contando algum caso sobre sua família antes de partir para juros, economia, títulos e taxas de câmbio.

Estes são apenas alguns exemplos do gênero de boletins matinais ? um meio usado por bancos de investimento e corretoras para promover seus serviços a potenciais clientes. O problema é que, sob a Diretiva de Mercados em Instrumentos Financeiros (conhecida pela sigla MiFID II), que a UE está prestes a colocar em vigor, as firmas terão obrigação de cobrar pelas pesquisas que distribuem. E isso talvez inclua as elucubrações matinais de analistas e estrategistas. Os autores correm o risco de precisar cobrar pelas notas, restringir sua circulação ou torná-las inócuas.

"MiFID II permite benefícios não monetários pequenos, mas isso somente inclui alguns tipos muito básicos de pesquisa informativa", disse Hannah Meakin, sócia do escritório de advocacia Norton Rose Fulbright, em Londres. "Certamente, qualquer coisa que possa ser descrita como recomendação de estratégia de investimento ou opinião bem embasada ou análise substancial presumivelmente entra na categoria de pesquisa de investimento."

A atualização de MiFID II tem mais de 1.000 páginas, escopo gigantesco e transformará a forma de supervisão dos mercados. Quando entrar em vigor, em janeiro, impactará os mercados de ações, títulos, derivativos e commodities, tendo como meta aumentar a transparência e a proteção aos investidores.

Os boletins matinais precisarão atender à exigência de MiFID II de que é preciso pagar por qualquer conteúdo "substancial" -- ou seja, bem pensado e potencialmente útil aos leitores --, de modo que não seja considerado indução.

"Fazer cobrança sob MiFID é um problema bem real", disse Peters, da Sol Capital. "O motivo de alguém ler pesquisa não é coletar a maior variedade de opiniões sobre determinado assunto e também algumas opiniões sobre assuntos não escolhidos?"

Em termos da quantia a ser cobrada pelos bancos, está ganhando espaço um modelo de dois níveis, segundo  Neil Shah, da Edison Investment Research.

Sob esse esquema, os serviços plenos de pesquisa de um grande banco -- incluindo reuniões com analistas e convites para conferências -- poderão ser obtidos por um valor elevado, mas o acesso somente ao portal de pesquisa pode sair por US$ 10.000 a US$ 20.000 por ano, de acordo com Shah. Será que os não assinantes continuarão recebendo os boletins matinais de graça?

"Não se houver qualquer coisa que valha a pena dizer", sentenciou Shah.

"Se tiver substância, é preciso pagar. Substância é qualquer coisa que dê indicação de uma estratégia de investimento."

Os boletins são úteis, mas pagar por eles é outra questão, colocou David Tawil, cofundador do fundo de hedge Maglan Capital, em Nova York.

"Esses relatórios matinais me economizam tempo e às vezes eu leio algo que teria deixado passar", contou Tawil. "Mas como somos uma firma consciente dos custos, precisaríamos avaliar cuidadosamente cada custo, porque não há alfa nessas notas."

--Com a colaboração de Gabriella Lovas e Nishant Kumar