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Gigante chinesa HNA capta bilhões no sistema bancário paralelo

Blake Schmidt, Pei Yi Mak, Venus Feng e Jun Luo

25/08/2017 10h34

(Bloomberg) -- Poucas empresas simbolizam as ambições globais da China como a HNA Group.

Em apenas três anos, o conglomerado privado investiu pelo menos US$ 45 bilhões no mundo inteiro. E como pagou por tudo isso?

A resposta a esta pergunta ganhou urgência à medida que o governo em Pequim age para limitar investimentos no exterior bancados por dívidas, situação que pode ameaçar a economia e as empresas chinesas. Parte da resposta está dentro do vasto setor bancário paralelo do país (também conhecido como shadow banking), que tem crescido em ritmo que preocupa as autoridades locais.

A Bloomberg News revisou mais de 100 documentos de investimento e corporativos para compreender melhor como a HNA financiou tantos negócios, incluindo participações adquiridas por bilhões de dólares no Deutsche Bank e na rede de hotelaria Hilton Worldwide Holdings.

Os documentos ? reunidos a partir de prospectos de fundos e informações submetidas ao Departamento de Indústria e Comércio da China ? mostram que a HNA usou uma rede de fundos e produtos de gestão de ativos, além de financiamento convencional, para bancar aquisições e até despesas rotineiras. Uma das principais conclusões é que o grupo prometeu mais de US$ 10 bilhões em ações não negociadas em bolsa a credores não bancários. Em alguns casos, a empresa pagou juros sobre empréstimos contraídos no mercado paralelo que são bem maiores do que os juros de referência na China para empréstimos bancários e emissão de títulos.

Não há indicações de que a HNA agiu de modo ilegal, mas a estrutura de financiamento não é comum para uma empresa desse porte. A revisão sugere que a HNA talvez esteja recorrendo a fontes mais caras de financiamento porque credores tradicionais estão restringindo a liberação de recursos ao grupo, de acordo com Andrew Collier, fundador da Orient Capital Research, em Hong Kong. Para ele, o quadro também levanta dúvidas sobre se os lucros gerados pelos investimentos da HNA serão suficientes para cobrir os custos de captação. O retorno sobre o patrimônio da empresa caiu de 3,6 por cento em 2015 para 1,7 por cento no ano passado, enquanto a taxa de juros efetiva subiu de 4 por cento para 4,4 por cento no período, de acordo com dados compilados pela Orient Capital.

"Questiona-se se eles terão lucro suficiente para pagar os empréstimos", afirmou Collier, que no mês passado escreveu um relatório de 13 páginas sobre a movimentação da HNA no sistema bancário paralelo. Para ele, a HNA pode enfrentar falta de financiamento à medida que fica mais dependente de empréstimos de custo mais elevado.

É importante ressaltar que não há sinais de que a HNA esteja com dificuldades para honrar suas obrigações. Embora o preço dos títulos emitidos por algumas unidades do grupo tenha desabado neste ano, os papéis ainda são negociados muito longe dos níveis considerados indicativos de estresse.

'Grande demais para quebrar'

Respondendo a perguntas enviadas pela reportagem, a controladora da HNA afirmou que o financiamento contraído junto a instituições não bancárias representa uma parcela "pequena" do financiamento total do grupo e que seu limite de crédito junto a bancos chineses aumentou em mais de 100 bilhões de yuans (US$ 15 bilhões) neste ano. Segundo a empresa, a razão entre dívida e ativos diminui há sete anos e a lucratividade e a qualidade dos ativos da HNA Group vêm melhorando.

Mesmo após a intensificação da repressão do governo ao sistema bancário paralelo neste ano, a HNA pode ter vários motivos para optar por essa modalidade em detrimento do financiamento mais convencional. Um motivo é que o processo de captação costuma ser rápido, afirmou David Yin, analista da Moody's Investors Service especializado em shadow banking.

Investidores pessoa física - a fonte última de recursos de muitos produtos do sistema bancário paralelo - podem estar dispostos a emprestar para a HNAporque presumem que a empresa é "grande demais para quebrar", acredita Victor Shih, professor de economia política da Universidade da Califórnia em San Diego, que estuda o setor financeiro da China. "Eles apostam em resgate se as coisas azedarem", disse o acadêmico.

--Com a colaboração de Prudence Ho Adrian Leung e Judy Chen