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Cientistas usam jogo de realidade virtual para estudar demência

Jeremy Kahn

29/08/2017 14h27

(Bloomberg) -- Navegar em um lago com paredes de gelo ou explorar um pântano para encontrar um monstro escondido pode soar como uma premissa divertida para um videogame de realidade virtual. Mas há um propósito sério por trás do novo jogo Sea Hero Quest VR: ajudar neurocientistas a projetar um novo teste para a demência.

A empresa de criação de jogos Glitchers, com sede em Londres, trabalhou com pesquisadores de universidades britânicas e suíças, bem como com instituições de caridade voltadas a demências e Alzheimer, para criar o Sea Hero Quest VR. O desenvolvimento do jogo de download gratuito, que está sendo lançado nesta terça-feira para o headset Gear VR da Samsung e para o Oculus Rift da Facebook, foi financiado pela operadora alemã de telefonia móvel Deutsche Telekom.

À medida que as pessoas jogam o jogo, dados anônimos ? como quais ações realizam, o ponto exato aonde elas dirigem o olhar e por quanto tempo ? são coletados e armazenados nos servidores da Deutsche Telekom na Alemanha. Os jogadores também podem optar por fornecer à operadora dados demográficos mais detalhados, como informações sobre idade, sexo e localização.

Neurocientistas e psicólogos cognitivos analisarão os dados para saber mais sobre como os seres humanos desenvolvem a consciência espacial e atravessam novos ambientes. Os pesquisadores acreditam que a degradação sutil dessas habilidades pode ser um sinal de alerta precoce de demência e que as informações extraídas do jogo podem ajudar a criar novos testes para identificar deficiências cognitivas mais cedo.

Atualmente, cerca de 47 milhões de pessoas no mundo vivem com demência, um número que deverá aumentar para 130 milhões de pessoas em 2050 devido ao envelhecimento da população, de acordo com a Organização Mundial da Saúde.

"Através de coisas como exames cerebrais, sabemos que o processo da doença que está subjacente à demência realmente começa entre 15 e 20 anos antes que as pessoas tenham consciência de que apresentam os sintomas óbvios", disse David Reynolds, diretor de ciência da Alzheimer's Research UK, um dos parceiros da Deutsche Telekom na criação do jogo. Ele disse que as pessoas não têm consciência dessas mudanças porque o cérebro é extremamente resiliente e capaz de encontrar soluções provisórias para os danos à medida que eles se acumulam gradualmente. Mesmo quando os sintomas começam a ser notáveis, as pessoas costumam mentir para si mesmas sobre o motivo que as leva a adotar comportamentos compensatórios ? como recorrer sempre ao Google Maps para obter instruções sobre um trajeto familiar. "O que realmente queremos é poder diagnosticar pessoas cerca de 15 a 20 anos antes do que é possível atualmente", disse ele.

A realidade virtual está sendo cada vez mais utilizada com fins terapêuticos ? para ajudar a tratar o transtorno de estresse pós-traumático ou aliviar a dor crônica. E os cientistas que estudam o cérebro já estão usando experimentos baseados em RV em laboratórios, disse Maxwell Scott-Slade, diretor criativo da Glitchers. Mas o jogo Sea Hero Quest permitirá que os cientistas coletem dados em uma escala muito maior. A Deutsche Telekom informou em comunicado que apenas dois minutos de jogo de realidade virtual no novo Sea Hero Quest coleta o equivalente a cinco horas de pesquisa feita em laboratório.

Para entrar em contato com o repórter: Jeremy Kahn em Londres, jkahn21@bloomberg.net.

Para entrar em contato com a editoria responsável: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net.

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