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Grande detentor de bônus da Venezuela descarta calote

Ben Bartenstein

11/09/2017 14h26

(Bloomberg) -- Um dos maiores detentores de bônus da Venezuela diz que as sanções dos Estados Unidos contra o país dão um maior incentivo para que o governo de Nicolás Maduro pague suas dívidas.

As penalidades impostas no mês passado restringem a capacidade do país de reestruturar suas dívidas, ou seja, a única opção do presidente é continuar queimando caixa para se manter em dia com o pagamento de títulos no mercado externo. Maduro irá adiar um default o máximo possível, porque a medida seria catastrófica para o setor de petróleo e, em último caso, levaria o governo a um colapso, segundo Bent Lystbaek, que administra US$ 3,4 bilhões em bônus de mercados emergentes na gestora de recursos Danske Capital.

"A disposição de pagar é extremamente alta e, agora, eles têm um ímpeto maior para manter o barco à tona", disse Lystbaek em entrevista concedida em Lyngby, Dinamarca. "Um default seria a pena de morte para a administração de Maduro."

Lystbaek não está sozinho em sua lógica. Embora os preços dos títulos venezuelanos tenham caído depois que as sanções foram anunciadas, desde então a maioria se recuperou com a perspectiva de que Maduro tem um enorme incentivo para manter os investidores contentes se quiser ficar no poder. Ainda que a retaliação dos EUA tenha levado a Fitch Ratings a rebaixar ainda mais a classificação da dívida do país, já na categoria especulativa, as chances de um default da Venezuela, na verdade, caíram. A probabilidade implícita nos próximos 12 meses baixou para 61 por cento em comparação com 65 por cento há um mês, segundo dados de swaps de default de crédito compilados pela Bloomberg.

A Danske Capital era o 19o maior detentor de títulos venezuelanos e o 21o maior investidor de bônus da petrolífera PDVSA em 30 de junho, segundo dados levantados pela Bloomberg.

Confira o que Lystbaek tem a dizer sobre política venezuelana e oportunidades de investimento:

Por que o senhor espera que a Venezuela continue a pagar sua dívida no curto prazo?

*"Não acredito que Maduro possa sobreviver a um default. Seria muito, muito difícil exportar petróleo. Os carregamentos de petróleo poderiam ser apreendidos. A compressão das importações já é substancial, eles não poderiam importar nada nesse caso. A turbulência social aumentaria muito, e acredito que seria o fim do jogo."

*"Agora eles recorrerão aos chineses e russos para contornar a situação. Eu acho que eles nem sequer consideram a alternativa. As consequências de um default seriam devastadoras."

*Dito isso, "eu acho que eles não têm chances no longo prazo. Os chavistas estão só vivendo um dia após o outro. Isso não pode continuar para sempre e o dia final está cada vez mais perto."

Quais bônus venezuelanos oferecem o melhor valor agora?

*"Estamos confiantes de que pagarão neste ano e os [títulos] de longo prazo cotados a 30 centavos por dólar estariam OK em um default."

*As maiores posições acima da média do mercado da Danske Capital estão em bônus da PDVSA com vencimento em 2020 e 2026. A firma tem uma posição dentro da média do mercado no longo prazo da curva venezuelana.

*"Nós nos sentimos muito confortáveis com os [bônus] 2020 da PDVSA. Há uma probabilidade muito, muito alta de que a primeira parcela seja paga em outubro e acreditamos no valor das ações da Citgo como garantia."

Como uma mudança de regime impactaria os detentores de bônus?

*"Se houvesse uma mudança de regime, a oposição buscaria uma reestruturação e poderiam ser bem-sucedidos e fechar um acordo. Haveria uma mudança radical na política: eles convidariam o FMI e tudo seria muito, muito positivo."

*"No caso de um default, haveria uma transição relativamente rápida de poder e uma restruturação da dívida bem acelerada, em linha com o que vimos na Ucrânia em 2015."