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Kakay vê tratamento de exceção a Joesley Batista

Vanessa Dezem e Julia Leite

12/09/2017 13h50

(Bloomberg) -- Quando surgiram imagens de Joesley Batista a caminho de se entregar à polícia, o magnata da carne tinha um novo companheiro de peso ao seu lado.

Antônio Carlos de Almeida Castro, renomado advogado criminalista no Brasil, foi fotografado através dos vidros com película escura de um SUV da Toyota com o dono da JBS no domingo à tarde. Na mensagem de texto em que confirmou que defenderá Joesley e outro executivo da J&F Investimentos no Supremo Tribunal Federal, Kakay, como é conhecido, acusou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de agir com deslealdade e de criar incertezas para todos que assinam acordos de delação premiada.

"Fui contratado para cuidar da liberdade deles", disse ele, por telefone, na segunda-feira. "Após a delação, há o direito de ter essa delação preservada. Os benefícios dados devem ser absolutamente cumpridos."

Kakay, que critica autoridades brasileiras por tentarem fazer espetáculos das prisões e por banalizarem os acordos de delação, disse que foi chamado assim que surgiu a possibilidade de prisão. Ele se uniu ao também renomado advogado criminalista Pierpaolo Cruz Bottini.

Presidentes, banqueiros

A lista de clientes famosos na carreira de três décadas de Kakay é longa e variada e inclui presidentes, inúmeros parlamentares e ministros, banqueiros e um jogador de futebol que virou senador. Sua estratégia de defesa para Joesley será questionar necessidade de prisão -- da mesma forma como fez com o bilionário banqueiro André Esteves em 2015 -- e buscar preservar os direitos garantidos pela delação. Sua primeira medida será apresentar uma petição para mostrar que a prisão é desnecessária, disse ele.

"Em todas as delações que acompanho, sempre houve a oportunidade para que os delatores fizessem 'recall' quando há dúvidas por parte dos procuradores", disse ele. "Mas, neste caso do Joesley, eles já propuseram a prisão direto. Está claro que eles estão sendo tratados como exceção."

Em referência à possibilidade de o procurador-geral cancelar os benefícios do acordo de delação, Kakay disse que Janot "sabe que uma das maiores críticas que se faz a ele é a imunidade e ele resolveu tirar a imunidade sem ter fundamento para tal". Ao fazer isso, "ele deu uma flechada na [própria] testa", disse Kakay.

A Procuradoria-Geral da República preferiu não comentar as declarações do advogado.

No início do mês o Ministério Público Federal afirmou que Esteves, outro dos clientes mais conhecidos de Kakay, não participou de um esquema de corrupção e que deveria ser absolvido pela Justiça, confirmando a previsão do advogado de que o caso nunca avançaria. O bilionário fundador do banco de investimento Grupo BTG Pactual passou três semanas no presídio de Bangu, no Rio, no fim de 2015, e mais alguns meses em prisão domiciliar, em São Paulo. Ele já retornou ao banco.

'Não é importante'

Kakay reiterou que Joesley sempre se mostrou disposto a apresentar o que os procuradores julgassem necessário, já que o prazo para entrega de documentos suplementares ainda não expirou.

O acordo de delação com Janot foi cancelado depois que procuradores encontraram uma gravação de Joesley e do executivo da J&F Ricardo Saud gabando-se porque não iriam à prisão e comentando que um membro da equipe do MPF estava tentando colocar Janot a favor dos executivos da empresa.

O advogado afirmou que o novo áudio, que gerou tanta irritação nos brasileiros, "não é importante".

"Não há nada grave nele. Há apenas menções -- A única coisa de grave é o Janot ter dito que é grave", disse.