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Exame médico de US$ 25.000 atrai pacientes ricos e ceticismo

Caroline Chen

13/09/2017 14h17

(Bloomberg) -- Craig Venter tem um negócio para você. Por US$ 25.000, ele lhe venderá uma sequência completa do seu genoma, uma ressonância magnética de corpo inteiro, uma tomografia computadorizada cardiovascular, uma densitometria óssea, testes cognitivos e muito mais com a esperança de descobrir um tumor ou uma anormalidade cerebral em desenvolvimento -- e cortar o mal pela raiz.

"Estamos liderando uma revolução médica", diz Venter a respeito de sua mais recente startup, a Human Longevity Inc., ou HLI. "Temos um sequenciamento melhor que qualquer outro no mundo. Temos as informações mais precisas."

Venter, um dos cientistas mais famosos do século XXI por sua atuação no mapeamento do genoma humano, tem anunciado muitas notícias impactantes desse tipo nos últimos tempos, e os investidores estão adorando. A empresa criada há quatro anos levantou US$ 500 milhões, incluindo US$ 200 milhões neste ano, o que lhe rendeu uma avaliação de cerca de US$ 1,9 bilhão, segundo a provedora de dados PitchBook. Estão em andamento planos para mais uma rodada de capital de risco antes de a empresa finalmente abrir seu capital, segundo Venter.

O problema é que as promessas de Venter estão soando vazias para um grupo crescente de críticos. Conversas com mais de uma dúzia de antigos e atuais funcionários, clientes e profissionais médicos descrevem uma empresa que pode não conseguir acompanhar as ambições de seu fundador. Alguns médicos afirmam que esses testes abrangentes não são particularmente úteis, e que mesmo aqueles que pensam assim dizem que empresas rivais podem superar a Venter. Esforços concorrentes com respaldo governamental nos EUA e no Reino Unido, por exemplo, ameaçam ultrapassar a HLI na corrida para coletar enormes quantidades de dados genéticos e clínicos da população, uma proposta-chave para o sucesso comercial da empresa.

Corrida genética

"Será que a HLI se manterá suficientemente à frente para que esses projetos não a tornem obsoleta?", questiona Daniel MacArthur, codiretor de genética médica e populacional do Instituto Broad da Universidade de Harvard e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês).

Venter não tem dúvidas a respeito. Ele afirma que 40 por cento dos 1.000 clientes ou mais que fizeram o teste, chamado Health Nucleus, descobriram que tinham alguma "doença grave". Alguns vieram da China, por meio de uma startup de turismo médico com sede em Xangai chamada Quantum Clinics, que se associou à HLI em 2016. Os chineses ricos, dispostos a pagar do próprio bolso, são atraídos pelo serviço meticuloso e pelo atendimento cuidadoso da HLI, afirmou a empresa. A Quantum enviará cerca de 50 pacientes chineses para fazer exames ao longo do próximo ano.

No entanto, enquanto Venter vende essa taxa de descoberta de doenças de 40 por cento, um estudo publicado na internet no início do ano por cientistas da HLI afirma que foram encontradas doenças relacionadas à idade que exigiam atenção médica "imediata" em apenas 8 por cento dos participantes. Venter diz que a diferença nos números ocorre porque "depende do que você conta". Ele inclui descobertas como pré-diabetes, que levariam uma pessoa a mudar seu estilo de vida.

Alguns médicos duvidam da necessidade de exames tão extensos. "Não gosto da ideia de vender produtos assustando as pessoas", diz Ethan Weiss, cardiologista da Universidade da Califórnia em São Francisco. Weiss examinou uma lista de condições que Venter afirma que foram detectadas nos exames. Ele discorda dos casos de aumento do átrio esquerdo, que poderia ser um sinal de riscos cardíacos. "Talvez o risco de desenvolver fibrilação atrial ao longo da vida seja maior, mas não está claro atualmente que esta seja uma informação valiosa. Seu coração não vai explodir."

--Com a colaboração de Li Hui