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Análise: Não paga US$ 1.000 pelo iPhone? Preço subirá assim mesmo

Shira Ovide

13/09/2017 12h06

(Bloomberg) -- Eu sei o que muitos de vocês estão pensando: de maneira nenhuma vou pagar US$ 1.000 ou mais por um iPhone. Voltaremos a analisar esse pensamento daqui a seis meses, depois que você sair da loja de telefones mais próxima segurando o novo iPhone X, o Samsung Note ou algum outro aparelho que, no melhor estilo Chuck Yeager, tiver quebrado a barreira de preços dos smartphones.

Mesmo que muitos consumidores hesitem diante do preço de US$ 1.000 ou mais, lançar um novo modelo de iPhone superluxuoso -- com custo correspondente -- é o tipo de estratégia de preços inteligente que faz a Apple prosperar mesmo em meio a uma demanda fraca por seus produtos. A empresa não recebe crédito suficiente pelo trabalho dos estatísticos, dos pesquisadores de mercado ou de quem quer que seja que estiver estabelecendo os preços em partes não glamorosas da sede da Apple. Tiramos o chapéu para vocês, nerds.

Enquanto todos fixam a atenção na barreira de US$ 1.000 dos smartphones, eu observo o potencial dos novos aparelhos de ajudar a Apple a fazer um estrondo sônico e quebrar uma barreira diferente: a receita média de US$ 700 do iPhone. O ultraluxuoso iPhone X, somado a aumentos de preço inteligentes feitos pela Apple nos novos iPhones menos sofisticados, deve ajudar a empresa a chegar lá.

Desde 2009 a Apple gera consistentemente uma média de US$ 600 a US$ 700 com cada iPhone vendido, segundo cálculos da Bloomberg Gadfly baseados nas vendas de iPhone a cada período de 12 meses. A receita obtida pela empresa com cada iPhone tem se mantido dentro dessa faixa, praticamente imperturbada pelo que acontece na Apple ou no mundo. Os analistas estimam que o valor chegará a US$ 697 no ano fiscal da Apple, que termina em setembro de 2018, e qualquer valor superior talvez tenha um potencial maior de dar uma surpresa feliz à Apple.

Sim, o preço de venda médio do iPhone está bem abaixo do pico atingido durante a temporada de Natal de 2015, mas ultimamente a Apple vem encontrando formas sutis de elevar a média. Com a atualização de seu telefone Plus, de tela maior, em 2016, a Apple adicionou cerca de US$ 20 ao preço inicial. Os analistas estimam que uma porcentagem maior de compradores de iPhone optou pelo Plus no ano passado em comparação com as versões anteriores do mesmo modelo. A empresa também acrescentou uma, depois outra cor bacana para o iPhone, e as pessoas podem consegui-las desembolsando pelo menos US$ 100 a mais em relação ao preço-base.

Graças ao aumento constante do preço médio da linha iPhone neste ano, a receita da empresa com a venda do telefone subiu 3,6 por cento nos nove primeiros meses do ano fiscal 2017 da Apple, que termina neste mês, apesar de a empresa ter vendido apenas 2,2 por cento mais iPhones do que no mesmo período do ano anterior. Esse é o poder do aumento constante dos preços médios de venda, combinado com o tamanho gigantesco do iPhone como negócio na Apple.

E agora a Apple está lançando um telefone de última geração ainda mais caro para os clientes mais fiéis. Claro que é difícil prever que porcentagem de compradores de iPhone pagará US$ 1.000 ou mais por um pequeno pedaço de vidro e circuitos. O CEO da empresa de telefonia celular canadense BCE disse na terça-feira que o iPhone X tinha o "preço de produto que todos tememos". E essas grandes telas brilhantes têm oferta limitada para aqueles que as desejarem.

Mas mesmo os novos iPhones convencionais são mais caros e ajudarão a elevar a tal média da Apple. O novo iPhone 8, que é a atualização do modelo do ano passado, tem um preço-base US$ 50 superior ao do modelo do ano passado, de US$ 699. A versão Plus teve um aumento de US$ 30 no preço em relação ao ano passado, para a partir de US$ 799. Ambos têm espaço de armazenagem digital inicial maior do que o dos modelos anteriores, mas vale ressaltar que esse espaço extra não custa tanto assim à Apple. A empresa está acondicionando bastante tecnologia dentro desses telefones -- e cobrando preços elevados em troca disso.

Não é preciso uma média de preço muito maior para que o iPhone faça uma grande diferença no resultado final da Apple. Toni Sacconaghi, analista de ações da Bernstein, calcula que cada US$ 10 extras no preço médio de venda da Apple ampliam os ganhos da empresa por ação em US$ 0,14 no ano fiscal que termina em setembro. Esse aumento geraria cerca de US$ 723 milhões em lucro adicional, considerando a manutenção do número de ações da Apple. Esse lucro adicional obtido com apenas US$ 10 a mais no iPhone médio é maior do que o lucro líquido anual de quase metade das empresas do S&P 500.

O aumento dos preços da linha iPhone como um todo da Apple testará quão garantida é a demanda por seus smartphones. As pessoas talvez não tenham muita escolha. Os modelos de smartphones de muitas empresas estão se tornando mais caros. As fabricantes de telefones estão desafiando a gravidade, e talvez o bom senso também.

Essa não é uma ótima notícia para os orçamentos dos consumidores, mas é ótima para os investidores da Apple. A empresa encontrou uma forma de crescer fazendo com que as pessoas paguem mais por um objeto similar ao comprado há um ou dois anos. Os nerds ganham novamente.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Para entrar em contato com o repórter: Shira Ovide em N York, sovide@bloomberg.net.

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