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Falta de democracia não afasta Wall Street de caça ao rendimento

Ben Bartenstein

14/09/2017 15h56

(Bloomberg) -- A democracia não importa. Esta é a mensagem que os traders transmitem enquanto devoram títulos de alguns dos governos mais autoritários do mundo.

Wall Street absorveu ofertas de títulos de grau especulativo neste mês do Tajiquistão e do Bahrein, ambos considerados como alguns dos regimes mais autocráticos, segundo a classificação da Freedom House, com sede em Washington. A demanda pela dívida da república da Ásia Central foi tão alta na semana passada que conseguiu reduzir os custos de empréstimos em quase um ponto percentual de seu alvo inicial. O reino do Oriente Médio vendeu US$ 3 bilhões em dívida na quarta-feira, a maior venda de sua história.

Essas ofertas chegam em um momento em que títulos em dólar do Iraque, da Etiópia e de Camarões ? também na lista de países "não livres" do observatório ? deram retornos de mais de 15 por cento neste ano, enquanto a média do mercado emergente foi de 9 por cento, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

A forte demanda pela dívida emitida por governos não democráticos reflete, em parte, o apetite do mercado por retornos melhores e a busca por estabilidade, às vezes às custas de questões éticas. Em um regime autoritário, os investidores geralmente têm um retrato mais claro do futuro porque não precisam se preocupar com coisas como eleições desordenadas ou burocracia no processo de tomada de decisões.

"A busca pelo rendimento coloca dinheiro em alguns lugares estranhos", disse Paul McNamara, que administra US$ 4,5 bilhões em dívida do mercado emergente na GAM UK, em entrevista por telefone, de Londres. "Se o mercado estiver em alta, as pessoas compram praticamente qualquer coisa."

No Tajiquistão, o presidente Emomali Rakhmon está no poder há 25 anos e ganhou um referendo no ano passado que acabou com os limites de mandato para seu gabinete. O governo vendeu US$ 500 milhões de eurobonds com um rendimento de mais de 7 por cento. A demanda foi tão alta que derrubou cerca de 90 pontos-base do preço inicial, mesmo com uma classificação de crédito seis degraus abaixo do grau de investimento na S&P Global Ratings.

O país, cuja estrada mais longa é famosa por ser usada por traficantes de drogas, sofreu recentemente uma crise bancária, períodos de agitação social e tensões com o vizinho do Oeste, Uzbequistão. Os detentores de títulos não possuem ativos reais a que se agarrar em caso de calote.

A venda de vários bilhões de dólares em sukuks realizada pelo Bahrein nesta semana equivale a cerca de 10 por cento da produção econômica do país. O Bahrein é o único membro do Conselho de Cooperação do Golfo classificado com grau especulativo por todas as três principais empresas de classificação de crédito. O reino também esteve no centro de tensões regionais desde junho, que o colocou, junto com a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, contra o Catar.

Sergei Strigo, chefe em Londres de dívida de mercados emergentes da Amundi Asset Management, que administra mais de US$ 1 trilhão, disse em entrevista que sua empresa realiza avaliações de governança ambiental, social e corporativa para seus investimentos e que nenhuma das emissões recentes gerou um sinal de alerta.
"Olhe, o país não está sob sanções, então os investidores podem negociar", disse ele sobre o Tajiquistão. "Todo mundo tem que fazer suas próprias avaliações."