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Revenda de ingressos de shows deixa vítimas em Wall Street

Laura J. Keller, Eben Novy-Williams, Bob Van Voris e Katherine Burton

25/09/2017 15h30

(Bloomberg) -- Não estamos mais em Asbury Park: os melhores ingressos para o show "Springsteen on Broadway" atualmente estão sendo vendidos por até US$ 10.000 no site StubHub.

Até mesmo um assento barato custa US$ 1.400. Não importa que o preço impresso no ingresso seja de US$ 75.

Claro, os ingressos de US$ 2,50, da época de "Rosalita", desapareceram nos anos 70. Mas a apresentação de The Boss no Walter Kerr Theatre, da Broadway, é apenas o exemplo mais recente de como os revendedores de ingressos da atualidade, também conhecidos como cambistas, ajudam a elevar os preços a patamares que parecem uma brincadeira de mau gosto.

Não surpreende que Wall Street queira entrar no ramo. Os ingressos, seja para ver Bruce, Adele ou "Hamilton", parecem algo seguro -- tão seguros e líquidos como os títulos do Tesouro dos EUA, só que muito mais lucrativos. Isso é que é inelasticidade de preços. E o negócio é enorme: cerca de US$ 15 bilhões por ano.

Isso, em todo caso, é a teoria. Porque algumas figuras de bolsos cheios, como Paul Tudor Jones e Michael Dell, teriam sido enganados como forasteiros na Times Square.

A isca é velha. Os supostos fraudadores geralmente dizem às suas presas que têm informação de primeira mão sobre um investimento, neste caso, ingressos com grande procura. As presas entregam o dinheiro e -- puf! -- eles desaparecem.

O caso mais recente envolve Craig Carton, um popular locutor esportivo de rádio de Nova York. Ele foi preso no início do mês acusado de participar de uma fraude multimilionária envolvendo ingressos para shows de Adele, Barbra Streisand e Justin Bieber.

Carton fez Doug Pardon, um importante sócio do hedge fund Brigade Capital Management, convencer colegas a emprestarem US$ 10 milhões para o negócio de revenda de ingressos de Carton. A empresa, que havia investido na firma privada Vivid Seats, argumentou que Carton tinha as conexões necessárias para comprar lotes de ingressos baratos para revenda, segundo uma pessoa com conhecimento do assunto. Mas Carton usou parte do dinheiro da Brigade para quitar dívidas de jogo, disseram promotores.

Carton se declarou inocente e negou vigorosamente as acusações. A Brigade e Pardon preferiram não comentar.

Não é a primeira vez que investidores supostamente sofisticados se deixam levar por promessas de retornos elevados e conexões com celebridades. Gerentes de recursos são particularmente vulneráveis hoje em dia em sua busca por investimentos em um mundo de taxa de juros baixas.

Os casos ressaltam o lado obscuro do negócio de revenda, em grande parte desregulamentado. Enquanto os fãs reclamam que os ingressos são escassos e caros em sites populares como StubHub, TicketIQ e SeatGeek, o potencial de fraude a investidores está mais no lado do intermediário da indústria, no qual o dinheiro é arrecadado com investidores para financiar compras de ingressos.

"Depois do que aconteceu nos últimos seis meses, o hedge fund que investe em corretoras de ingressos deveria se envergonhar", disse Jesse Lawrence, fundador do mercado de revendas TicketIQ. "Simplesmente não faça isso, a menos que você seja capaz de verificar com 100 por cento de certeza como os ingressos estão sendo obtidos."