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Análise: Goldman Sachs adora o bitcoin desprezado pelo JPMorgan

Stephen Gandel

03/10/2017 14h17

(Bloomberg) -- Os traders de bitcoin podem respirar aliviados. Se o CEO do JPMorgan Chase, Jamie Dimon, os demitir por negociarem a moeda digital, o Goldman Sachs pode recebê-los de braços abertos.

O Goldman estaria avaliando uma nova operação dedicada a compra e venda de moedas digitais. O Goldman seria a primeira grande instituição de Wall Street a ter explicitamente uma mesa de negociação de bitcoins e a notícia parece legitimar a moeda menos de um mês depois de Dimon chamá-la de "fraude" e afirmar que demitirá quem for estúpido o suficiente para negociá-la.

De fato, o preço do bitcoin, que muitos já pensavam que estava em uma bolha, subiu US$ 193 na segunda-feira, para US$ 4.365 cada. O valor é superior ao de US$ 952 do início do ano, registrando um crescimento surpreendente de 360 por cento apenas em 2017. O S&P 500, que está em um ano considerado ótimo, acumula alta de 15 por cento no ano, incluindo dividendos.

Mas os traders podem estar dando muita importância para a decisão do Goldman sobre a moeda digital. Lembram-se dos swaps de crédito lastreados em hipotecas? O Goldman também tinha uma unidade dedicada a negociá-los.

Além disso, a decisão sobre o bitcoin pode ter mais a ver com a situação da Goldman do que com a solidez do bitcoin. A potência de Wall Street tem enfrentado dificuldades. A receita da divisão de trading de títulos do Goldman, que muitas vezes é a que mais gera dinheiro, caiu 40 por cento no segundo trimestre.

Foi o pior trimestre da história da divisão, que enfrenta uma queda prolongada. E o banco tem procurado outras áreas para ganhar dinheiro.

Uma delas é a área de empréstimos. Mas embora possam aumentar a receita do Goldman, os empréstimos não vão melhorar seus lucros, nem o retorno sobre o patrimônio, não com essas taxas de juros próximas a mínimas históricas e o achatamento da curva dos rendimentos.

A negociação de bitcoins, no entanto, poderia produzir retornos elevados. As operações de trading de Wall Street prosperam com a volatilidade.

E com o VIX, que mede a volatilidade do mercado de ações, em um dígito, o bitcoin é uma das poucas áreas nas quais os preços ainda estão subindo. Por isso, a bola da vez é o bitcoin, pelo menos para o Goldman, mesmo que a moeda digital esteja, segundo qualquer medida razoável, em uma bolha, e mais perto que nunca de estourar.

Vendo o quadro mais amplo, a divergência entre o JPMorgan e o Goldman em relação ao bitcoin é algo que pode ter mais a ver com as histórias de ambos, não sendo, portanto, uma previsão confiável em relação a que ponto o preço ou mesmo o uso do bitcoin chegará.

O JPMorgan, que há duas décadas se chamava apenas Chase Manhattan, é um gigantesco banco do centro financeiro que ainda obtém mais da metade de sua receita emprestando dinheiro, principalmente dólares. Esses empréstimos são apoiados por quase US$ 1,5 trilhão em depósitos, que também estão principalmente em dólares.

O Goldman, por outro lado, historicamente foi e continua sendo uma instituição impulsionada principalmente pelo trading. Apesar dos recentes problemas dessa divisão, o banco ainda obtém mais da metade de suas receitas com trading e menos de 10 por cento delas com empréstimos.

O Goldman recentemente disse que gostaria de ser mais que um credor e seu recente plano de ampliação de receitas de US$ 5 bilhões prevê obter 40 por cento das receitas com empréstimos a cada ano.

O banco lançou uma operação de crédito ao consumidor, descolada para seduzir a geração Y, chamada simplesmente Marcus. Mas mesmo que o Goldman gerasse US$ 2 bilhões a mais com empréstimos, esse negócio ainda constituiria menos de 20 por cento de sua receita global.

Na realidade, a mudança pública rumo aos empréstimos é um esforço do Goldman, em meio a oscilações de seu negócio de trading, para mostrar aos seus investidores que a instituição está mais segura do que antes e para fazê-los pagar mais por suas ações. Mas a adoção do bitcoin indica que o Goldman não mudou muito suas características, e isso deve preocupar tanto o Goldman quanto quem investe em bitcoin.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg LP e de seus proprietários.