Logo Pagbenk Seu dinheiro rende mais
Topo

Mercado agrícola gera êxodo de executivos de empresas

Agnieszka de Sousa e Andy Hoffman

18/10/2017 13h14

(Bloomberg) -- O sucesso dos agricultores modernos se transformou na infelicidade dos traders das maiores comercializadoras agrícolas do mundo.

Os lucros estão diminuindo porque anos de safras enormes reduzem a volatilidade e as oportunidades de negociações, obrigando as empresas a apertarem os cintos. Tradings de commodities como a Cofco International reorganizaram suas unidades agrícolas neste ano, provocando a saída de vários diretores de divisão. Alguns foram tentar a sorte em outra parte e outros jogaram a toalha e se aposentaram.

"O mercado mudou", disse Miroslaw Marciniak, consultor da InfoGrain em Varsóvia e ex-trader de grãos. "Os resultados já não são mais os de antes. Isto leva as empresas a procurarem reduzir os custos e a economizar. Há pressão e nem todos conseguem aguentar isso."

Pelo menos 40 gerentes e executivos seniores em agricultura deixaram seus cargos em tradings de commodities como a Archer-Daniels Midland e a Louis Dreyfus neste ano, com base em um cálculo de notícias publicadas pela Bloomberg. Embora em muitos casos essas vagas tenham sido preenchidas, o fenômeno representa uma mudança de cargos sem precedente.

A agricultura responde por quase metade de todas as mudanças de emprego em commodities neste ano, em comparação com outros setores como petróleo, metais e gás e energia, de acordo com a empresa de recrutamento Commodity Appointments.

Condições desfavoráveis

Pode haver muitos motivos para a movimentação de pessoas -- como redução de custos nas empresas, desacordos sobre estratégia ou escolhas pessoais --, mas isso está ocorrendo no contexto de condições de trading mais duras. Ao mesmo tempo, um melhor armazenamento agrícola e uma maior disponibilidade de dados sobre o mercado significa que produtores e consumidores podem fazer transações cada vez mais favoráveis à custa de comerciantes maiores.

O setor, dominado há um século pelo quarteto "ABCD" -- ADM, Bunge, Cargill e Louis-Dreyfus -- foi obrigado a realizar mudanças abrangentes. As empresas recorreram à venda de ativos, ao trading em mercados de nicho e até mesmo ao processamento de carne para gerar mais dinheiro. Os executivos estão pressionando mais os traders para que eles gerem lucros, e isso está ficando cada vez mais difícil, disse Marciniak.

As mudanças na agricultura refletem, em certa medida, as que foram vistas no setor de metais industriais alguns anos atrás, quando a agitação com a desaceleração da China e com a queda dos preços afetou várias empresas, da Noble Group até a Trafigura Group. Em contraste, os traders de petróleo saíram em grande parte ilesos da depressão dos preços que começou em 2014, em parte devido à volatilidade dos preços e a uma estrutura do mercado chamada "contango", que permitiu que os traders garantissem lucros comprando e armazenando petróleo para vendê-lo a preços mais altos no futuro.

"Começou uma época difícil para o conjunto das traders agrícolas, mais provavelmente para as traders de grãos do que para as de energia e metais", disse Philippe Chalmin, professor de História Econômica da Universidade Paris-Dauphine que estuda traders de commodities há quatro décadas. "Agora estamos em um mercado muito morno. O tempo de expansão é mais limitado."

--Com a colaboração de Isis Almeida Javier Blas e Shruti Date Singh