A incógnita do candidato do mercado para 2018
(Bloomberg) -- O sangue-frio do mercado com o cenário eleitoral de 2018 esconde uma grande incógnita. O investidor espera que uma economia mais sólida no próximo ano ajude a eleger um candidato alinhado com as reformas, mas este nome ideal segue desconhecido e sua definição pode depender do ex-presidente Lula, que lidera com folga as pesquisas. Outro fator da calmaria, que é o quadro externo benigno de juros baixos, não deve durar, o que pode deixar os ativos brasileiros mais expostos à incerteza do quadro político.
Na última pesquisa Datafolha, do início de outubro, Lula apareceu com 35% das intenções de voto, a um ano das eleições, seguido por Jair Bolsonaro e Marina Silva. Candidatos vistos como claramente favoráveis às reformas defendidas pelo mercado, como João Doria e Geraldo Alckmin, apareciam com cerca de um quarto da pontuação de Lula, sem avanços visíveis em relação às sondagens anteriores.
Com os tucanos patinando, outros nomes, como o do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e até o apresentador Luciano Huck, passaram a ser vistos como alternativas para o campo reformista. Meirelles, contudo, ainda pontua na casa de 2% nas pesquisas e depende de uma economia muito forte em 2018 para se viabilizar, o que ainda não é uma certeza.
A definição do candidato de centro que vai concorrer com maiores chances em 2018 ainda deve depender da decisão da Justiça, em segunda instância, sobre o recurso do ex-presidente Lula contra a sua condenação, diz Thiago Vidal, analista político da Prospectiva Consultoria. Se Lula for impedido de se candidatar, nomes tidos como mais moderados e técnicos, como Geraldo Alckmin, tendem a se fortalecer.
Por outro lado, argumenta Vidal, com Lula na disputa, podem ganhar espaço nomes com discurso mais claramente contrário ao PT, como o do deputado Jair Bolsonaro. O tucano João Doria também poderia se encaixar nesse perfil, mas vem se desgastando como prefeito de São Paulo. "A grande questão vai ser se o Lula se candidata ou não", diz Vidal. O analista considera pouco provável que o ex-presidente, se não condenado, vença o 2º turno da eleição devido à alta rejeição, mas pode ter votação elevada no 1º turno e ajudar o PT a eleger bancada expressiva no Congresso.
"Ainda tem muita coisa para acontecer", diz José Márcio Camargo, economista-chefe da Opus Gestão de Recursos e professor da PUC-Rio. Apesar de as pesquisas atualmente mostrarem liderança de candidatos de perfil populista, Camargo considera que a melhora da economia em 2018, com mais crescimento, menor desemprego e inflação e juros baixos, tende a favorecer a eleição de um presidente reformista. "Isso não quer dizer que as pesquisas estejam erradas, mas existe ainda muito ruído. É por isso que o mercado mantém um pé atrás."
Mesmo com a incerteza eleitoral e a dúvida sobre a aprovação das reformas, o mercado brasileiro vinha tendo desempenho positivo em meio a um cenário internacional benigno, com investidores tranquilos diante da possibilidade de os juros seguirem subindo gradualmente nos EUA. A tolerância do investidor ao risco, contudo, pode diminuir se essas condições favoráveis mudarem, diz Mauricio Oreng, estrategista do banco Rabobank no Brasil. "Quando condições financeiras globais mudam, os investidores passam a ver o copo meio vazio."
--Com a colaboração de Vinícius Andrade e Aline Oyamada
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