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Indicado ao Fed, Powell não tem Ph.D., mas tem voz ativa

Christopher Condon e Craig Torres

09/11/2017 14h23

(Bloomberg) -- Anos antes de ser indicado à liderança do Federal Reserve, Jerome Powell trouxe para o banco central dos EUA uma lição que aprendeu no setor privado: administre ou seja administrado.

Ele notou que os inteligentíssimos economistas da casa resolviam diferenças entre si ? em todos os assuntos, do sistema de pagamentos à política monetária ? e depois apresentavam ao alto escalão uma recomendação unificada, esperando que seguissem a recomendação do grupo.

Essa prática não caiu bem com um advogado que fez carreira na área de investimentos em private equity. Nesse ramo, as propostas precisam sobreviver a críticas dos principais tomadores de decisão, sendo que alguns têm a responsabilidade específica de argumentar contra uma ideia de investimento.

Quando assumiu o cargo de diretor do Fed, Powell quis mudar as coisas. Ele insistia para os funcionários discutirem na frente dele, de acordo com uma pessoa que trabalhou com ele. O advogado também se debruçou sobre estudos acadêmicos e fez muitas perguntas. Em mais de cinco anos no Fed, ele conseguiu ganhar o respeito dos profissionais da instituição mesmo quando questionava as recomendações deles.

Isso será útil quando Powell assumir o comando em fevereiro e o Fed, com um exército formado por mais de 300 economistas com Ph.D., for liderado pela primeira pessoa sem doutorado em Economia desde Paul Volcker, que presidiu o BC americano entre 1979 e 1987. Fora da instituição, há quem alerte para o risco de ele ser capturado pela equipe interna.

Evitando pensamento unificado

"É muito importante o presidente do Fed questionar a equipe sobre os motivos para crerem que a análise deles é correta", disse Karen Dynan, economista da Universidade Harvard que trabalhou no Fed por 17 anos. "O perigo é quando a análise é consistente com opiniões disseminadas e aceita rápido demais."

Os funcionários do Fed formam uma das melhores equipes de especialistas em economia do mundo. As previsões e recomendações deles são bastante valorizadas pelas autoridades. Mas o grupo também é acusado de ser insular e, como aprendeu Powell, resistente a expor debates não resolvidos aos diretores.

Além disso, há pouca rotatividade entre os economistas mais antigos. Quando isso acontece, o sucessor costuma ser alguém que já estava na casa e é promovido. Entre os oito diretores e vice-diretores das divisões de assuntos monetários e pesquisa e estatística que são diplomados em Economia, seis começaram a carreira no próprio Fed.

Liderança de Yellen

A atual presidente do Fed, Janet Yellen, mostrou liderança ao insistir que pessoas que estavam fora da força de trabalho oficial voltariam ao mercado à medida que a economia se recuperasse. A equipe dela estava mais cética. Se ela tivesse seguido a opinião desses profissionais, talvez o Fed tivesse subido os juros mais rapidamente. No fim das contas, ela aparentemente estava certa.

Alguns duvidam que Powell terá conhecimento ou confiança para fazer algo parecido.
"Powell não pode contar com a mesma profundidade de conhecimento" de seus antecessores, disse Eric Winograd, economista sênior para os EUA da Alliance Bernstein.

"Isso não importa agora, quando as águas estão relativamente tranquilas e a trajetória da política monetária está bem estabelecida, mas vamos ver o que acontece quando o ciclo virar e o comitê de política monetária for obrigado a alterar a rota."