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Xisto dos EUA está 'ansioso' por aproveitar presente da Opep

David Wethe e Kevin Crowley

04/12/2017 15h03

(Bloomberg) -- A Opep e a Rússia acabam de dar a seu inimigo mais implacável, o xisto dos EUA, um presente de Natal antecipado.

Enquanto os conselhos corporativos das exploradoras americanas de petróleo se preparam para armar os orçamentos de perfuração para 2018, o acordo histórico assinado na quinta-feira pela Arábia Saudita, pela Rússia e por outros grandes produtores de petróleo para prorrogar os limites à produção por mais um ano poderia levar os diretores a gastar mais na perfuração. A contenção do grupo de produtores resultou em preços mais altos para os produtores de xisto dos EUA, que não hesitaram em contratar mais sondas nem em inundar de carregamentos os mercados globais.

Após saírem da crise provocada pelo pior colapso do mercado de petróleo em uma geração, as exploradoras americanas provavelmente aumentarão o investimento em 20 por cento no ano que vem, segundo uma pesquisa da Evercore ISI sobre tendências orçamentárias do setor. Esse aumento viria depois do de 2017, estimado em 41 por cento.

"O setor norte-americano de exploração e produção está muito ansioso por gastar mais capital", disse James West, o analista da Evercore reconhecido como guardião dos dados sobre gastos na América do Norte desde meados da década de 1980. "Agora eles estão nos conselhos falando sobre orçamentos e a Opep está dizendo o que vai fazer durante 2018."

Os orçamentos de perfuração para o ano que vem já estão sendo preparados pelos diretores, mas as exploradoras já estão prontas para aproveitar qualquer oscilação nos preços decorrente do acordo entre a Organização de Países Exportadores de Petróleo e a Rússia. Quando os preços do petróleo bruto aumentam, os produtores de xisto costumam utilizar instrumentos financeiros como swaps e opções para garantir preços para barris que eles só extrairão daqui a meses, um processo chamado cobertura.

Cobertura

Agora, os produtores provavelmente poderão conseguir coberturas com base na referência para os EUA, o West Texas Intermediate, que fixam um mínimo de mais ou menos US$ 50 a US$ 55 por barril, disse Scott Hanold, analista da RBC Capital Markets. "Suponho que muitas coberturas já tenham sido compradas" desde o anúncio do prolongamento do acordo, disse ele.

Cerca de 60 por cento da produção projetada pelas empresas no universo de cobertura da RBC já têm cobertura, "um livro de coberturas muito mais cheio do que em anos anteriores", disse Hanold. Contudo, há margem para fazer mais, disse ele.

Apetite

No fim das contas, o apetite voraz de crescimento do xisto poderia destruir a alta que lhe permitiu crescer. Se a produção dos campos de xisto dos EUA continuar se expandindo no ano que vem graças ao autocontrole da Opep, essa disciplina individual diminuirá, os países-membros abandonarão a aliança e surgirá uma nova abundância que arrasará os preços, segundo analistas da ESAI Energy.

"O que parece bom hoje se tornará excessivo em 2018", disseram os analistas da ESAI em uma nota a clientes. À medida que a produção do xisto aumentar, "o acordo começará a se desfazer aos poucos. Isto aumentará os preços no curto prazo, mas vai derrubá-los por volta de 2019".