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Apple e Wal-Mart ajudam China a punir poluidores

Lulu Yilun Chen

12/12/2017 14h02

(Bloomberg) -- Os anos que Ma Jun passou como ativista ambiental lhe ensinaram uma lição: se você quiser que as fábricas deixem de poluir, envergonhá-las na frente da Apple e da Wal-Mart Stores funciona melhor do que as multas do governo.

A estratégia de Ma ? financiada pela Alibaba Group Holding ? é coletar dados em tempo real de sites do governo que compilam informações de equipamentos de monitoramento de efluentes sobre cerca de 13.000 dos piores poluidores da água. Os dados são então agregados a um aplicativo chamado Blue Map.

As fábricas pegas trapaceando enfrentam repercussões. Por causa da organização sem fins lucrativos de Ma, algumas foram banidas da lista de fornecedores da Apple, não receberam a classificação de crédito desejada para emitir títulos ou até mesmo foram privadas de empréstimos bancários. Para Ma, isso é mais eficaz do que incitar protestos ou pressionar os governos locais, o que tende a aumentar a ira das autoridades na China.

O aplicativo tira proveito do aumento da preocupação pública com a poluição no país e pode ajudar a resolver uma das maiores dores de cabeça do governo ? a crescente escassez de água potável para a agricultura, as indústrias e as cidades. Usando smartphones e redes sociais, milhões de cidadãos se tornaram a linha de frente da campanha do país para identificar e punir os poluidores. O envolvimento público contribuiu para o aumento do número de violações de poluição denunciadas.

Ma, autor do influente livro "China's Water Crisis", de 1999, disse que sua base de dados, que qualquer um pode acessar e usar gratuitamente, identificou mais de 830.000 casos em que fábricas estavam descartando quantidades excessivas de resíduos ou falsificando dados mediante a adulteração dos dispositivos de monitoramento.

"Às vezes, é difícil conseguir que os órgãos governamentais locais façam cumprir a lei ou multem essas fábricas, porque elas são enormes fontes de renda tributária", disse Ma, fundador do Instituto de Assuntos Públicos e Ambientais (IPE) em Pequim. "É muito mais eficaz que essas empresas enfrentem a ameaça de serem eliminadas da lista de fornecedores da Apple. O interesse econômico é importante."

A base de dados, atualizada a cada duas horas, está se tornando uma referência importante para as empresas ocidentais que terceirizam produtos na China. A Apple afirma ter usado essas informações para identificar e resolver 196 casos em que os fornecedores violaram as normas ambientais. Com um clique, marcas como Levi's e Gap podem verificar seus fornecedores no arquivo da IPE.

Proteger a reputação

A base de dados economiza o custo de ter que analisar individualmente os fornecedores ? que às vezes totalizam dezenas de milhares ? e prioriza as fábricas que poderiam prejudicar reputações.

"Empresas como a Apple são vulneráveis a boicotes", disse Ethan Zuckerman, diretor do Centro de Mídia Cívica do Instituto de Tecnologia de Massachusetts. "É sensato que elas apoiem iniciativas desse tipo."

Paula Pyers, diretora sênior de responsabilidade de fornecedores da Apple, disse que o IPE é um líder que fomenta uma maior transparência. "Proteger o meio ambiente e lidar com os impactos em nossa cadeia de abastecimento é uma das maiores prioridades da Apple", disse ela.