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Hotéis usam botão de pânico para proteger camareiras de hóspedes

Josh Eidelson

14/12/2017 15h06

(Bloomberg) -- Um hóspede do Westin Hotel, no centro de Seattle, abriu a porta nu e pediu que a camareira Ely Dar entrasse no quarto. Outro lhe ofereceu dinheiro em troca de uma massagem. Um hóspede uma vez lhe disse que ela era linda, agarrou-a por trás e a chamou quando ela saiu correndo.

Nos 17 anos em que trabalhou como camareira de hotel, Dar ouviu cantadas, foi perseguida e captou olhares lascivos dos hóspedes inúmeras vezes. Imigrante das Filipinas com 60 anos de idade, ela trabalhou no mesmo hotel de Seattle durante a maior parte do tempo em que esteve nos EUA porque a remuneração e os benefícios de saúde superam as demais opções de emprego. Mas ela vai trabalhar todos os dias preocupada com o que algum cliente poderia tentar: "Eu não confio em nenhum dos hóspedes", disse ela.

Jeff Flaherty, diretor sênior de comunicações globais da Marriott International, a companhia controladora do Westin, preferiu não comentar sobre as experiências de Dar, mas disse que a empresa tem tolerância zero para o assédio. "Se recebemos uma denúncia de conduta inadequada, nós a levamos muito a sério e tomamos as medidas apropriadas", disse ele.

Histórias como as de Dar ganharam mais ressonância recentemente porque diversos setores estão enfrentando os homens poderosos que assediam e abusam das mulheres no trabalho. Os casos que mais chamaram atenção até agora revelam os abusos sofridos por profissionais escolarizadas; as experiências das trabalhadoras de baixa renda do setor de serviços não provocaram a mesma indignação.

Responsabilidade do hotel

As camareiras de hotéis são particularmente vulneráveis. Quando a Comissão para a Igualdade de Oportunidades no Emprego dos EUA (EEOC, na sigla em inglês) estudou os fatores que fomentam o assédio sexual, identificou uma série de condições que definem o serviço de quarto: diferenças de idioma, "disparidades significativas de poder" entre os empregados e a gerência, dependência da satisfação do cliente, isolamento físico, consumo de bebidas alcoólicas.

"Nós não sabemos se os predadores estão lá", disse Juana Melara, camareira em Long Beach, Califórnia. Ela contou que um ex-empregador demorou mais de 20 minutos para responder quando ela alertou que um homem havia se exibido nu para ela em um corredor. "Eles sentem que têm direito à mulher que limpa o quarto."

Nos EUA, os hotéis estão sendo mais pressionados para garantir a segurança de suas funcionárias no ambiente de trabalho, mesmo que a ameaça não venha de outros funcionários. Um tribunal da Califórnia decidiu em outubro que a funcionária de um hotel poderia processar seu empregador de acordo com a lei estadual após supostamente ter sido estuprada por um intruso na propriedade. Os defensores das trabalhadoras têm pressionado os hotéis para equipar as camareiras com "botões de pânico", a fim de protegê-las dos hóspedes. E a responsabilidade da gerência provavelmente será um problema na negociação coletiva do próximo ano, quando contratos que abrangem cerca da metade dos trabalhadores hoteleiros sindicalizados em todo o país serão renegociados.

"O empregador é responsável por ter um ambiente de trabalho sem assédio, mesmo que o assédio venha de um cliente ou consumidor", disse Chai Feldblum, comissária da EEOC. Além da lei federal que proíbe o assédio sexual, leis estaduais e locais podem se aplicar ? e podem resultar em indenizações muito maiores para demandantes bem-sucedidos.