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Mercado vê com ceticismo aprovação da Previdência em 2018

Josue Leonel, Ana Carolina Siedschlag e Vinícius Andrade

14/12/2017 15h17

As esperanças do mercado na aprovação da reforma da Previdência este ano foram sepultadas com anúncio do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de que a medida será pautada para fevereiro. O mercado, porém, mantém o mesmo ceticismo em relação às chances de votação no próximo ano, quando os parlamentares estarão com o foco voltado para as eleições. Deixar a mudança para 2019 pode ser a saída, mas tudo vai depender do perfil do novo presidente a ser escolhido pelas urnas.

A agência Moody's disse nesta quinta-feira que a eleição eleva a chance de a reforma da Previdência não sair no próximo ano, o que é negativo para o crédito do país. Aprovar a reforma no começo de 2018 é possível, mas improvável, diz Lucas de Aragão, sócio da Arko Advice. "Em fevereiro fica muito complicado, porque não há espaço na agenda, levando em conta recesso, Carnaval, Copa do Mundo, saída de ministros, início da pré-campanha, proximidade com eleição", diz o consultor.

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O mercado brasileiro reflete o pessimismo com a reforma com alta do dólar e dos juros futuros e queda da bolsa. Por ora, contudo, não parece haver sinal de um estresse fora do controle. Ainda que a reforma não saia, analistas ponderam que as elevadas reservas e o baixo deficit em conta corrente do país ajudam a impedir a repetição de uma desvalorização cambial como as vistas em 2015 ou 2002. 

Além disso, o governo poderá adotar medidas alternativas para conter o deficit fiscal e, ao elevar a projeção do PIB para +3% em 2018, aponta para uma arrecadação mais forte. Resta a ameaça de uma alta maior dos juros nos EUA, que encontraria o Brasil num momento de fragilidade, mas as sinalizações do Federal Reserve seguem indicando um aperto gradual e sem sustos.

Devido à "ainda robusta" posição financeira externa do país, a moeda nacional deve continuar "em geral resiliente" e fechar o próximo ano em R$ 3,30", diz Marijke Zewuster, chefe de pesquisa de mercados emergentes do ABN Amro Bank. Enquanto as questões fiscais têm um efeito de longo prazo, a profissional observa que o quadro político afeta o mercado no curto prazo. Por isso, ela não descarta momentos de volatilidade. "Como temos visto recentemente, ocasionalmente podemos ter soluços, seja por atrasos no processo de reformas, seja por eventos políticos."

"O cenário base é de não aprovação neste governo da matéria como ela está neste momento", diz Rodrigo Melo, economista-chefe da Icatu Vanguarda. Para evitar um agravamento das expectativas, o governo terá de buscar aprovação de outras medidas, que não exijam mudança constitucional. "Precisam colocar uma agenda de reformas que fuja da emenda constitucional, algo que seja mais fácil de aprovar no Congresso."

Mesmo se não for aprovada a reforma da Previdência, há uma chance de as agências não rebaixarem o país se o Congresso der a impressão de que ainda está lutando pelo ajuste fiscal, diz o economista da Icatu. Ou seja, o governo e o Congresso terão de mostrar que o país "não está parado" no próximo ano.

"A reforma só acontece em 2019. Nunca entramos nesse otimismo de que poderia sair neste governo", diz Roberto Padovani, economista do Banco Votorantim. Para ele, o mercado brasileiro está "relativamente calmo" neste momento porque ainda há liquidez internacional, mas esse quadro poderá mudar, num momento de fragilidade fiscal e indefinição política no Brasil. Segundo Padovani, esses fatores tendem a gerar instabilidade nos ativos e levar o dólar a R$ 3,40 a R$ 3,50, com possibilidade de estresse maior em alguns momentos. "2018 vai ser um ano de volatilidade", diz o economista.