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Netflix já não defende com tanto empenho a neutralidade da rede

Todd Shields e Lucas Shaw

14/12/2017 10h37

(Bloomberg) -- A Netflix, uma defensora das regulações de neutralidade da rede três anos atrás durante a última grande batalha em Washington sobre o assunto, foi menos expressiva neste ano, em um momento em que as normas correm o risco de serem eliminadas.

Um dos motivos: a empresa com sede em Los Gatos, Califórnia, que começou emprestando DVDs de filmes por correio, se transformou em um provedor de vídeo on-line de US$ 12 bilhões que já não precisa tanto das regras quanto antigamente. E os provedores de banda larga precisam de seus 53 milhões de assinantes nos EUA e de seus filmes e seriados de TV exclusivos, como "The Crown" e "Stranger Things", a fim de atender às expectativas dos consumidores.

Outras empresas da web também cresceram desde a última vez que Washington passou pelo debate sobre neutralidade da rede, em 2014. Essa nova força isolou-as de quaisquer efeitos negativos da votação que ocorrerá nesta quinta-feira, em que é quase certo que a Comissão Federal de Comunicações (FCC) dos EUA decidirá acabar com as regulações implementadas durante o governo Obama.

"Não tenho certeza de que Google, Netflix e Facebook ainda precisem da proteção da internet aberta", disse Paul Gallant, analista da Cowen & Co., em entrevista. "Eles têm muito mais poder que antigamente."

Com a votação, a FCC estabelecerá mais um padrão em um debate inflamado que já dura mais de uma década, à medida que Washington lida com a revolução que a internet provocou nas redes de comunicação tradicionais. A proposta do presidente da FCC, Ajit Pai, que tem apoio suficiente dos republicanos da agência para ser aprovada, é uma vitória para os provedores de serviços de internet que afirmam que a regulamentação semelhante à dos serviços públicos desacelerou o investimento e desencorajou a inovação. Os oponentes afirmam que ela criará uma internet menos diversificada, porque aumentará o domínio das empresas on-line estabelecidas.

Gallant disse que os maiores provedores de conteúdo agora têm uma vantagem em relação aos provedores de serviços de internet (ISP, na sigla em inglês). "Se o Facebook, a Netflix, o Google ou a Amazon retirarem seu conteúdo de um determinado ISP, isso é um problema para o ISP", disse Gallant.

As regulações estabelecem padrões para o tratamento justo de vídeo e tráfego de dados pelos provedores de banda larga, como a AT&T e a Comcast, que controlam o acesso às telas em casas e em dispositivos móveis. A proposta de Pai eliminaria a proibição de bloquear ou desacelerar o tráfego na web ou de cobrar mais por uma passagem rápida nas redes.

As startups, no entanto, poderiam sofrer. Elas podem não conseguir pagar as taxas, em contraste com concorrentes que poderiam ser "operadores endinheirados que podem pagar o acesso prioritário", afirmou o grupo de defesa e pesquisa Engine Internet à FCC em um documento.

Representantes da Netflix entraram em contato por telefone ou pessoalmente com funcionários da FCC mais de uma dezena de vezes nos meses que antecederam a votação de 2015, de acordo com documentos de divulgação.

Neste ano, em contrapartida, a empresa ofereceu dois documentos e os registros da FCC não mostram nenhuma visita depois que Pai propôs as regras em abril.

Em um comunicado, a Netflix afirmou que "continua apoiando proteções fortes da neutralidade da rede, uma postura que não mudou mesmo depois que nossa empresa cresceu. Durante anos fizemos parte de uma frente unida com outras empresas de tecnologia através da Internet Association e da Incompas", referindo-se a grupos do setor com sede em Washington.

"Embora existam outras empresas para as quais este é um problema comercial maior hoje, continuamos apoiando as proteções da neutralidade da rede para que a próxima Netflix tenha uma oportunidade justa de ir longe", afirmou a Netflix em seu comunicado.

--Com a colaboração de Spencer Soper e Sarah Frier