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Você pagaria US$ 50 em um café que chegou perto do espaço?

Kate Krader

22/01/2018 16h26

(Bloomberg) -- Pratos caros costumam fazer autopropaganda. O hambúrguer de US$ 35 do Db Bistrô Moderne tem foie gras escorrendo do centro. O Golden Opulence Sundae de US$ 1.000 do Serendipity 3 é enfeitado com folhas de ouro.

Mas no café Round K, no bairro Lower East Side, em Nova York, a taça de café Astronaut em si parece pouco atraente. A preparação fica alguns minutos de molho e chega a você em uma adorável, mas nada excepcional, xícara de porcelana. A bebida marrom como tinta chega sem nenhuma decoração e custa US$ 50.

Os cafés com preços salgados estão se tornando cada vez mais comuns. O Eleven Madison Park, eleito o melhor restaurante do mundo (com um menu de degustação de US$ 295), apresentou um serviço de café de US$ 24. É feito de grãos colombianos de elite e preparado à mesa.

A Klatch Coffee, do sul da Califórnia, recentemente gerou burburinho com uma xícara de café que custa US$ 55. No ano passado, a empresa de torrefação de Rancho Cucamonga, Califórnia, foi a única empresa dos EUA a conseguir uma colheita de grãos Esmeralda Geisha Cañas Verdes Natural, extremamente raros, do Panamá. Também merecem destaque os grãos iemenitas aromatizados com chocolate, vendidos por até US$ 240 a libra-peso (453 gramas).

A Round K não tem menus de degustação de mais de 100 dólares, nem grãos raros. A minúscula cafeteria tem um torrefador na vitrine, usa sacas de café como tapetes e serve sanduíches My Korean Girlfriend para o café da manhã. O que torna o café Astronaut da Round K tão caro é o que o proprietário Ockhyeon Byeon faz com os grãos. Ele os manda ao espaço.

Para fazer seu café Astronaut, Byeon colocou uma libra de grãos provenientes de uma pequena fazenda colombiana em um balão meteorológico e lançou ao espaço em Nova Jersey. Ele estima que a carga tenha chegado a 48 quilômetros de altitude, quase na mesosfera. Ele recuperou o pacote, envolvido com bastante fita adesiva, cerca de cinco horas depois, usando GPS. Quando abriu, Byeon encontrou os grãos ligeiramente congelados e cobertos de água, resultado da pressão do ar.

Convidei o especialista em café Oliver Strand para experimentar uma xícara do Astronaut (o café entra e sai do cardápio da Round K devido ao cronograma de torrefação de Byeon. Ele também vende pacotes de 60 gramas, o suficiente para duas porções, por US$ 50). Strand já visitou torrefações e fazendas ao redor do mundo e escreve sobre café para publicações como o New York Times.

O veredicto

Strand e eu nos sentamos no balcão de seis lugares da Round K e deixamos nossa xícara de café Astronaut esfriar para sentir a totalidade de sabores. A bebida é de um marrom leve e sujo, com aroma suave e frutado. O sabor é forte e sugere alcaçuz, e é especialmente suave em relação ao produto padrão da Round K, feito dos mesmos grãos colombianos (terrenos), que custa US$ 5.

Julgamento de Strand: o café não vale US$ 50, pelo menos para ele. "Pode valer US$ 50 para outra pessoa. O valor é algo particular do observador. Você paga pela ideia, e é uma bela xícara de café", diz. Pessoalmente, eu preferi o egg cappuccino (US$ 6,50), incrivelmente rico e aveludado, com uma gema mexida com café expresso quente e uma fina camada de creme batido doce e pó de cacau amargo. Repeti.