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BCE caminha para encerramento gradual das compras de títulos

Alessandro Speciale e Jana Randow

30/01/2018 11h10

(Bloomberg) -- Integrantes do Banco Central Europeu estão mantendo a intenção de desfazer o programa de compra de títulos em cerca de três meses, em vez de interrompê-lo subitamente. A informação é de autoridades da zona do euro com conhecimento do assunto.

Segundo as fontes, até os integrantes do Conselho Geral do BCE que vêm defendendo uma linguagem que sinalize o fim das medidas de estímulo da época da crise apoiam uma redução gradual das compras de ativos após a conclusão da última extensão, em setembro. Essas pessoas pediram anonimato porque as conversas são informais e confidenciais e ressaltaram que ainda não foi tomada nenhuma decisão.

Um porta-voz do BCE se recusou a comentar.

Quando decidiram estender as compras de títulos, no ano passado, as autoridades assumiram implicitamente um período curto de redução das compras até o fim de 2018. Oito meses antes do encerramento da fase atual, as opiniões mais recentes sugerem a construção de um consenso sobre a estratégia adequada para concluir o programa de maneira organizada e sem abalar os mercados.

Pelo esquema vigente, as compras vão até setembro a um ritmo mensal de 30 bilhões de euros (US$ 37 bilhões), levando o total a 2,55 trilhões de euros. O Conselho Geral reiterou, após a decisão de política monetária da semana passada, que o programa pode ser estendido novamente se a perspectiva de inflação for fraca demais.

Visão de Draghi

Embora o conselho de 25 integrantes entenda de forma quase unânime que a melhor tática é a redução gradual, alguns não estão prontos para considerar quando a redução deve começar, segundo uma das fontes.

O presidente do BCE, Mario Draghi, mencionou essa possibilidade na semana passada, quando disse que as opções são outra extensão, uma redução ou interrupção súbita. Segundo ele, as autoridades não tiveram uma "discussão apropriada" ainda, mas que a visão pessoal dele é que o programa não será interrompido "abruptamente".

Já o comandante do banco central holandês, Klaas Knot, afirmou no domingo que o programa deveria terminar "o mais rápido possível". As medidas de estímulo quantitativo "fizeram o que realisticamente poderia se esperar delas", ele disse, também reconhecendo o compromisso de continuar as compras até setembro.

A eventual data de encerramento é especialmente importante para o BCE porque define uma referência para quando as taxas de juros começarão a subir.

No momento, o Conselho Geral tem a promessa de manter os custos de captação nos menores níveis em registro até "bem depois" do fim das compras líquidas de títulos de dívida.

Perspectiva de juros

Alguns contratos embutem no preço a elevação dos juros no fim de 2018, apesar de Draghi ter afastado essa ideia durante a entrevista coletiva com a imprensa na semana passada, quando disse que vê "pouquíssimas chances" de os juros subirem neste ano.

"Acho que veremos o fim do programa de estímulo quantitativo em setembro e a primeira normalização dos juros negativos no fim do ano, em dezembro", disse Antonio Garcia Pascual, economista-chefe para Europa da Barclays Capital Services, em entrevista à Bloomberg Television na segunda-feira.

O fator mais importante para qualquer decisão será a mudança na projeção oficial do BCE (forward guidance). Alguns integrantes querem alterar o palavreado já na próxima reunião, em 8 de março, enquanto outros demonstraram preferência por adiar qualquer mudança significativa na linguagem até junho.

--Com a colaboração de Carolynn Look Piotr Skolimowski e Zoe Schneeweiss