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Foguetes pequenos são o futuro, não Falcon Heavy: Bloomberg View

Adam Minter

22/02/2018 14h43

(Bloomberg) -- Desde que foi ao espaço, em 6 de fevereiro, o Falcon Heavy, o foguete de 70 metros de altura da SpaceX, virou sensação global. Mas é possível que um lançamento muito mais silencioso feito três dias antes tenha sido mais importante. Na ocasião, um foguete de 9,4 metros conhecido como SS-520-5 decolou do Centro Espacial Uchinoura, no Japão. Trata-se do menor foguete da história a colocar um objeto na órbita terrestre -- e de um possível prenúncio de grandes mudanças futuras.

Levar qualquer coisa ao espaço é, há décadas, uma tarefa arriscada, cara e demorada. Atrasos e acidentes são comuns até mesmo com a SpaceX e seus foguetes reutilizáveis podem demorar meses para voltar a operar. Nos últimos anos, no entanto, dezenas de outras empresas vêm tentando desenvolver foguetes minúsculos que poderiam reduzir o custo e o risco dos lançamentos de satélites. Se tiverem êxito, podem simplesmente transformar o negócio espacial.

Os smallsats, definição dos satélites que pesam menos de 500 quilos, existem desde a década de 1970. Eles se tornaram mais práticos na década de 1990 quando os engenheiros começaram a incorporar aos projetos componentes eletrônicos baratos e de prateleira, como sensores de telefones. Os satélites pequenos tinham lançamentos mais baratos e muitas vezes estavam mais atualizados que seus homólogos maiores, cujo desenvolvimento poderia levar mais de uma década. E o mais importante, talvez, é que os smallsats podiam ser substituídos de forma econômica quando falhassem.

Os empreendedores rapidamente viram as oportunidades. Satélites do tamanho de caixas de sapato com painéis solares e câmeras agora podem ser usados para tarefas de reconhecimento, observações meteorológicas e climáticas, monitoramento de desastres e muito mais. Com a queda dos custos -- hoje há smallsats customizáveis que custam apenas US$ 11.000 --, as oportunidades de negócios se expandiram. A empresa Planet Labs atualmente opera mais de 200 smallsats para observação da Terra para governos, empresas agrícolas, firmas de investimento e outros. Com a expectativa de lançamento de cerca de 6.200 smallsats nas próximas duas décadas, as possibilidades parecem quase ilimitadas.

Há apenas um problema: como levá-los à órbita?

No momento, a maioria das operadoras de smallsats compra espaço em foguetes que transportam equipamentos maiores e mais caros. No ano passado, a Planet Labs embutiu 88 smallsats em um foguete do governo indiano que transportava um grande satélite de reconhecimento. Mas essa abordagem está longe de ser ideal: significa estar à mercê de agências espaciais ou operadores privados, que podem ter prioridades (e programações) diferentes. Além disso, as operadoras de smallsats podem querer colocar uma sonda em órbita a uma altitude que um determinado foguete não é capaz de atingir.

Foguetes menores e mais baratos seriam uma solução óbvia para esse problema. Mas as cargas úteis pequenas também tornam o lucro mais difícil. O programa Falcon 1 da SpaceX prometia lançamentos de smallsats por US$ 6 milhões a partir de 2006. Três anos depois, a empresa concluiu que "não poderia fazer o Falcon 1 funcionar como negócio".

No entanto, a demanda por smallsats aumentou desde então -- e o mesmo ocorreu com os investimentos em foguetes pequenos. O foguete Electron, da Rocket Lab, que poderá transportar até 500 libras (226 quilos) por apenas US$ 4,9 milhões, fez seu primeiro lançamento bem-sucedido em janeiro. A Virgin Orbit, de Richard Branson, e a Vector Space Systems, com sede em Tucson, EUA, planejam lançamentos de produtos concorrentes ainda neste ano. Enquanto isso, a Força Aérea dos EUA está solicitando US$ 193 milhões para desenvolver veículos de lançamento para cargas úteis pequenas nos próximos cinco anos. Há pelo menos 35 veículos do tipo em desenvolvimento em todo o mundo.

Muitos desses foguetes nunca sairão do chão. Mas os que decolarem deverão reduzir o custo e o tempo necessários para levar um satélite da prancheta à órbita e também permitirão que os pequenos satélites sejam rapidamente atualizados ou trocados. Para os militares, isso pode significar uma rápida substituição de um satélite de navegação destruído em combate; para uma operadora comercial, pode ser uma oportunidade de garantir um serviço ininterrupto. Mas o mais importante, talvez, é que os pequenos foguetes permitirão que cientistas e inventores repensem as possibilidades do espaço.

(Essa coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e seus proprietários.)