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Defesa da Tesla é criticada após acidente com Autopilot

Ryan Beene

19/04/2018 12h32

(Bloomberg) -- A defesa entusiasta que a Tesla faz de seu sistema Autopilot está sendo criticada por defensores da segurança que questionam um dado fundamental mencionado pela empresa em seus argumentos.

Em várias ocasiões desde que ocorreu um acidente fatal ligado ao Autopilot no mês passado, a fabricante de carros elétricos afirmou que o governo dos EUA concluiu que uma versão inicial do Autopilot reduzia em 40 por cento as taxas de acidentes. Vários especialistas em segurança afirmam que a Tesla está interpretando incorretamente uma conclusão do órgão regulador. Outros pedem que a Tesla e a Administração Nacional de Segurança do Tráfego Rodoviário dos EUA (NHTSA, na sigla em inglês) publiquem os dados subjacentes, porque a tecnologia de direção autônoma está sendo cada vez mais investigada após várias mortes chamativas.

Tanto a empresa quanto a NHTSA - responsável pelo relatório mencionado pela Tesla - não cederam aos pedidos de publicação dos dados, que são assunto de uma ação judicial em andamento por registros públicos. A Tesla, que pode compilar de forma constante informações sobre aceleração, freada e velocidade dos veículos de seus clientes, reitera suas afirmações.

"Se a Tesla continuar afirmando isso, e particularmente se continuar atribuindo essa afirmação à NHTSA, acho que a análise, as advertências e as qualificações necessárias para sustentar esse número precisam ser divulgadas", disse Bryant Walker Smith, professor da Faculdade de Direito da Universidade da Carolina do Sul, que estuda normas para carros sem motorista. "Se esta afirmação for pelo menos remotamente verdadeira, este seria um dos maiores avanços da segurança desde o cinto de segurança."

A fonte

A afirmação da Tesla se baseia em um relatório elaborado pela NHTSA em janeiro de 2017 para encerrar uma investigação sobre o sistema de assistência ao motorista da Tesla. A investigação foi aberta por causa do acidente fatal de um Tesla Model S com o Autopilot em maio de 2016 e não detectou nenhum defeito.

A NHTSA analisou incidentes que ativaram airbags em veículos Model S e Model X com Autopilot anos-modelo de 2014 a 2016 para elaborar o relatório. A agência usou esses valores, além de dados sobre quilometragem fornecidos pela Tesla, para calcular as taxas de acidentes antes e depois da instalação do Autosteer, um componente fundamental do Autopilot, nos carros.

A NHTSA calculou que os veículos Tesla Model S e Model X anos-modelo 2014-2016 estiveram envolvidos em cerca de 0,8 acidentes por 1,6 milhão de quilômetros após a instalação do Autosteer, em comparação com 1,3 acidentes por 1,6 milhão de quilômetros antes da instalação. A agência afirmou que as taxas refletiam a quilometragem completa - não apenas a parte em que o Autopilot foi usado.

"Os dados mostram que a taxa de acidentes dos veículos da Tesla caiu quase 40 por cento após a instalação do Autosteer", escreveu a agência. O CEO da Tesla, Elon Musk, tuitou na época que esse trecho era o "destaque" do relatório.

Interpretação 'generosa'

A Tesla mencionou a taxa de 40 por cento em publicações em blogs e comunicados enviados por e-mail para tranquilizar a população após o acidente fatal de 23 de março com o motorista de um Model X em Mountain View, Califórnia. No último comunicado enviado pela empresa a jornalistas neste mês, a Tesla afirmou que "a NHTSA concluiu que até a versão inicial do Tesla Autopilot gerou uma redução de 40 por cento no número de acidentes, e isso já melhorou substancialmente desde então".

Os comunicados são "uma interpretação excessivamente generosa" das verdadeiras conclusões no relatório da NHTSA, disse Nidhi Kalra, cientista sênior da informação na Rand, que faz pesquisa sobre veículos autônomos. "Eles estão usando um dado sem fundamentação e exagerando-o para transformá-lo em algo que ele não diz."

--Com a colaboração de Dana Hull