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Porto em Mianmar pode se tornar bomba de dívida com China

Jason Koutsoukis

11/05/2018 11h59

(Bloomberg) -- A cidade de Kyaukpyu, situada em torno a um pequeno porto de pesca no golfo de Bengala, tem o ar de um lugar que espera ficar rico em pouco tempo.

No mercado à beira-mar, junto às barracas de frutos do mar descarregados de barcos de pesca de madeira que flutuam no porto cheio de lixo, agora há pilhas de brinquedos e smartphones fabricados na China. Nas proximidades, o gado pasta entre obras em construção e os prédios de escritórios e hotéis ocupam o lugar dos bangalôs desgastados pelo clima. Restaurantes chiques nas coberturas e um campo de golfe destacam a sensação de transição.

Grande parte do desenvolvimento, e um salto nos preços dos terrenos, preveem um preço gigantesco para esta distante cidade de 50.000 habitantes em Mianmar: US$ 10 bilhões para construir um porto de águas profundas e uma zona industrial, financiados pela China. O plano de investimento -- sete vezes o custo dos portos construídos pelos chineses no Sri Lanka e em Camarões -- colocou Kyaukpyu no centro de um debate em Mianmar e em toda a Ásia sobre quem realmente se beneficia com a grande estratégia "Um Cinturão, Uma Rota" da China.

"O verdadeiro perigo do porto é que seus gastos extremos poderiam levar o governo de Mianmar a assumir um nível de dívida insustentável", disse Greg Poling, diretor da Asia Maritime Transparency Initiative, no Center for Strategic and International Studies em Washington. "Isso, em combinação com outros projetos atuais e futuros em Mianmar, poderia levar a uma armadilha de dívida nos próximos anos."

Empréstimo

Essas preocupações paralisaram o desenvolvimento desde que o governo militar anterior escolheu a chinesa CITIC Group para construir o porto há três anos. A CITIC, a primeira corporação de investimento estatal da China, propôs uma participação de 70 por cento no projeto e dividir o restante entre o governo de Mianmar e um consórcio de empresas locais. A companhia chinesa administraria a zona por até 75 anos e financiaria a participação de Mianmar.

As autoridades temem que um país com uma economia menor do que a da República Dominicana possa ter dificuldades para honrar e pagar os bilhões de dólares que Mianmar precisaria tomar emprestado para o projeto.

"O volume dos juros é muito grande, e eles não são como os empréstimos que recebemos do governo japonês -- os empréstimos da China são muito mais caros", disse Soe Win, membro do comitê econômico central do partido governista, a Liga Nacional para a Democracia, e candidato a presidente do banco central de Mianmar. Ele preferiu não dar detalhes do empréstimo proposto.

Exemplo

Uma das principais preocupações de alguns membros do governo é o que aconteceu no Sri Lanka. Em 2008, uma joint venture com a China começou a construir um porto de águas profundas em Hambantota. Como o Sri Lanka não conseguiu pagar o empréstimo do projeto, o país acabou cedendo o porto à China por 99 anos no ano passado em troca por uma redução da dívida.

"A China está tentando influir na política de Mianmar de muitas maneiras", disse Soe Win em entrevista. "Mas nós temos medo de acabar como o Sri Lanka."