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Armazenagem será grande novidade da energia: Bloomberg Opinion

David Fickling

21/05/2018 15h21

(Bloomberg) -- Você acha que a queda dos custos das energias solar e eólica está transformando o cenário do setor energético? Então você deveria estar apostando em formas de armazenar essa energia.

Para entender o porquê, basta pensar: diferentemente de quase todos os rivais no espaço de geração de energia, os painéis solares e as turbinas eólicas são produzidos em massa. Isso significa que eles estão sujeitos às regras de melhoria contínua e de quedas dos custos que vemos em semicondutores, produtos domésticos e roupas porque os volumes de produção sobem e as fábricas fazem guerras de preços. As usinas de energia tradicionais são, em essência, projetos de construção em grande escala que raramente alcançam os mesmos tipos de dividendos em termos de eficiência.

Como resultado, o custo das novas construções de energias renováveis está diminuindo. Os projetos solares e eólicos de maior custo nos EUA agora produzirão uma eletricidade pelo menos tão barata quanto a das usinas de carvão de menor custo, segundo relatório do ano passado da Lazard.

Na Austrália, devido a esse diferencial de preço, é improvável que uma das maiores exportadoras de carvão do mundo volte a construir algum dia outro gerador movido por esse material, disse Catherine Tanna, diretora-gerente da EnergyAustralia, na conferência da Bloomberg Invest em Sidney, na quarta-feira. No início da década de 2020, as energias renováveis terão ficado tão baratas que será menos custoso construi-las do que até mesmo operar uma usina nuclear ou a carvão já existente, disse Jim Robo, CEO da NextEra Energy, com sede na Flórida, durante conferência com investidores, em janeiro.

As produtoras de carvão esperam ver uma última sequência de demanda na próxima década com o aumento dos salários na Ásia emergente -- mas mesmo assim, com o rápido declínio do custo das energias renováveis, o combustível sólido está perto de ser eliminado do mercado pelo preço, mostram dados da Bloomberg New Energy Finance.

O problema de as coisas ficarem extremamente baratas, contudo, é que muitas vezes acaba havendo um excesso. Essa situação é piorada pela natureza ininterrupta das energias eólica e solar. Basta considerar a determinação recente, na Califórnia, para a instalação de painéis solares nos telhados de todos os novos edifícios. Como escreveu meu colega Liam Denning na semana passada, um dos efeitos prováveis é que mais elétrons serão empurrados para o mercado de eletricidade no meio da tarde, período já saturado de oferta.

É aí que entra a armazenagem. A maioria dos mercados de energia está estruturada na forma de leilões minuto a minuto, nos quais a rede compra a eletricidade mais barata, seja qual for. Um resultado disso é que nos lugares nos quais a penetração das energias renováveis é maior, em alguns momentos os preços da eletricidade no atacado caíram para zero ou até mesmo para o território negativo.

Para as geradoras convencionais, trata-se de uma notícia terrível: elas precisam vender eletricidade por um custo menor do que o de produção ou se desligar temporariamente -- o que, em essência, gera o mesmo problema, porque reduz a capacidade de utilização de uma planta e prejudica seu retorno sobre o capital.

Se você está no negócio de armazenamento, no entanto, a proposta é atraente. Como argumentamos no ano passado quando a Tesla instalou uma bateria de íon de lítio de rede nos arredores de Adelaide, os preços negativos dão aos operadores de armazenamento a oportunidade de serem pagos para carregar suas células, e de serem pagos novamente depois para descarregá-las.

Há vantagens semelhantes para as usinas de gás natural reservadas para os horários de pico, que podem ser ligadas e desligadas muito mais rapidamente do que as geradoras de carvão e nucleares. Mas ao passo que a rentabilidade das turbinas a gás é limitada pelo preço que pagam pelo metano que queimam, com uma base de custos potencialmente negativa, as operadoras de armazenamento podem mirar margens de mais de 100 por cento.

Armazenamento não precisa ser sinônimo apenas de baterias, cujos custos relativamente altos e tamanhos pequenos as tornam realmente mais adequadas apenas para a demanda de curto prazo em uma escala que vai de segundos a algumas horas.

Os projetos de armazenamento de energia de maior capacidade são as usinas hidrelétricas de bombeamento, que transportam a água até reservatórios elevados usando eletricidade barata fora dos horários de pico e depois permitem que a água desça de volta durante o horário de pico, quando os preços são mais elevados. O governo da Austrália planeja um grande programa de hidrelétricas de bombeamento com o projeto Snowy Hydro 2.0; a EnergyAustralia está estudando um empreendimento similar e a Liberty House Group fará o mesmo, disse o fundador Sanjeev Gupta à Bloomberg Television, na quarta-feira.

Além disso, há tecnologias menos avançadas capazes de bombear ar para cavernas subterrâneas ou balões subaquáticos, ou usar elétrons fora do horário de pico para produzir biocombustível ou hidrogênio que possa ser queimado em horários de mais escassez. Resposta à demanda -- fazer com que os consumidores economizem nos horários de pico -- e redes de transmissão melhores para integrar ativos de geração distantes também ajudarão.

Quem critica as energias renováveis tem razão em ressaltar que os custos cada vez menores delas afetarão o status quo. O problema é que a solução proposta é renunciar aos mercados, aos preços mais baixos e à energia limpa e optar por decisões estatais de apoio ao consumo de combustíveis fósseis, que são caros e, em última instância, catastróficos.

As energias eólica e solar -- e, com certeza, o gás -- transformaram o panorama do setor de energia na última década. O armazenamento fará o mesmo nos próximos anos.

(Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e seus proprietários.)