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Como ajudar jovens viciados em tecnologia: Fully Charged

Pia Gadkari

19/06/2018 12h56

(Bloomberg) -- Há duas semanas, passei um tempo com o Dr. Michael Rich, um pediatra do Hospital Infantil de Boston, para aprender sobre como as crianças são afetadas por passarem horas na internet todos os dias.

Muitos de nós passamos tempo demais usando distintos dispositivos. Mas crianças e adolescentes, especialmente aqueles com problemas comportamentais, podem estar sofrendo o impacto da farra tecnológica da sociedade. Rich, que trabalha no Centro de Mídia e Saúde Infantil, diz que crianças que lidam com distúrbios como transtornos de atenção e ansiedade são mais afetadas pelo excesso de tempo na internet. Os pacientes de Rich representam os casos mais extremos: crianças que tentaram suicídio ou automutilação como resultado de uma espiral agravada pelo uso da tecnologia. Depressão, privação de sono e desinteresse no mundo físico são sinais precoces de que uma criança pode ter um problema relacionado com a tecnologia.

A preocupação com o assunto tem crescido constantemente. Em 2016, a Common Sense Media informou que metade dos adolescentes se sentia viciada em seu telefone e, em 2018, afirmou que metade dos pais cujos filhos tinham um smartphone temia que eles estivessem viciados no aparelho. O crescente receio gerou pressão para que as empresas de tecnologia repensem suas ofertas.

No início deste mês, a Apple anunciou em sua conferência anual para desenvolvedores que lançará novos recursos para ajudar os usuários a gerenciar o tempo que passam diante da tela - e que dará aos pais algumas opções novas para monitorar a atividade de seus filhos na internet. Por que a Apple está tomando essas medidas agora? Pode ter ajudado que o hedge fund ativista Jana Partners e o fundo de previdência California Teachers Retirement System (CalSTRS) - grandes acionistas da Apple - tenham escrito uma carta pedindo à empresa para pensar sobre como seus dispositivos estão afetando as crianças, para não enfrentar uma reação negativa dos consumidores.

Mas a Apple é famosa por não se importar muito com o que seus acionistas acham que ela deveria fazer. (Minha colega Shira Ovide lembrou-me que a exceção foi a vez em que a empresa atendeu ao pedido de Carl Icahn de recomprar ações - embora aquela fosse uma época mais vulnerável para a Apple.) Talvez a motivação mais provável seja que a empresa está tentando se adiantar a um assunto que poderia capturar mais de nossa atenção em breve. Ajudar os clientes a monitorar o uso e até mesmo a limitar o tempo que eles gastam em seus dispositivos pode se tornar um problema - assim como a privacidade - em que a Apple pode ter uma forte posição pública. Isso estaria de acordo com a visão de líder moral no setor que a empresa tem de si mesma. (Não importa que, quando se trata de vício em tecnologia, a Apple continue sendo a progenitora de nosso descontentamento por fornecer o equipamento.)

A boa notícia: a Apple não é a única empresa que está trabalhando nisso. A Amazon recentemente lançou controles parentais para seus dispositivos Echo, e outras gigantes da tecnologia, como Google e Samsung, estão desenvolvendo seus próprios monitores de uso. Se as empresas começarem a competir para ajudar os jovens a usar a tecnologia de maneira responsável, os usuários vulneráveis, como os adolescentes com problemas comportamentais, serão os maiores vencedores - e os acionistas também poderão se sair muito bem.