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Fundo da Adam lidera perdas de multimercados com crise no Brasil

Felipe Marques, Cristiane Lucchesi e Aline Oyamada

19/06/2018 07h00

(Bloomberg) -- A recente derrocada do mercado no Brasil acabou queimando o mais quente dos gestores de fundos de hedge do país.

A Adam Capital, que se tornou a maior gestora independente de fundos multimercado com apenas dois anos desde sua fundação, registrou um tombo de quase 15% em seu Adam Advanced Master Fund de 30 de abril a 14 de junho, últimos dados disponíveis. Essa foi a maior queda para a categoria nesse período, quando as ações brasileiras estavam afundando e a depreciação da moeda brasileira acelerou.

"Oscilações como essa fazem parte do jogo", disse André Salgado, sócio da Adam Capital, em entrevista. "Este é o fundo mais volátil que temos, então os movimentos tendem a ser maiores mesmo, e é nele que está o dinheiro dos sócios."

Muitos investidores estão deixando os mercados emergentes nos últimos meses. Isso se soma à pressão sobre os preços dos ativos resultante de uma greve dos caminhoneiros que além de paralisar o Brasil por 11 dias em maio aumentou os temores de que um candidato favorável ao mercado poderia perder na eleições presidencias de outubro.

O Ibovespa caiu 17% de 30 de abril a 14 de junho. A taxa de juros dos títulos do Tesouro com vencimento em 1º de janeiro de 2020 subiu 2,1 pontos percentuais para 9,4% em 14 de junho, depois que o Banco Central surpreendeu investidores com a decisão de deixar o juro básico inalterado em sua reunião de 16 de maio.

O vencedor entre os chamados fundos multimercado, a versão brasileira dos fundos de hedge, foi a unidade de gestão de recursos de terceiros do Itaú Unibanco, cujo fundo Itaú Hedge Plus, com R$ 3,3 bilhões em ativos, ganhou 8,3% durante o período. Venceu com uma aposta na contramão da maioria, pois considerava que os mercados estavam otimistas demais sobre as perspectivas para a economia.

As perdas do Adam Advanced Master resultaram dessa mesma dinâmica, com apostas em taxas de juros e ações, de acordo com Salgado, que disse que o desempenho do fundo ainda é positivo no longo prazo. No início de fevereiro, o fundo havia superado 89% de seus pares nos últimos 12 meses.

Desde seu nascimento em abril de 2016, o Adam Advanced Master registrou um retorno total de 93%, segundo dados compilados pela Bloomberg. O fundo está fechado para novos investidores desde agosto de 2016.

Para combater as perdas recentes, o Adam Advanced Master elevou sua exposição a ativos fora do Brasil, disse Salgado. Ele também "cortou substancialmente" suas apostas de taxa de juros.

Marcio Appel, co-fundador da Adam Capital, estava apostando que o Ibovespa dobraria em 12 meses, conforme disse em entrevista à Bloomberg no início deste ano. As ações brasileiras representam "a mais óbvia" oportunidade global "de longe", disse Appel na época. Ele previa que o Ibovespa poderia chegar a 160.000 pontos. O índice beirava os 70.000 pontos nesta segunda-feira.

Desempenho do Safra

O Safra Galileo Master FIM, um fundo de R$ 13,3 bilhões, também foi um dos maiores perdedores entre os multimercado do Brasil, com quase 11% de queda, segundo os dados compilados pela Bloomberg. Em 28 de fevereiro, os dados mais recentes disponíveis, o fundo tinha cerca de 78% de seus ativos investidos nos títulos do Tesouro vinculados à inflação, as NTN-Bs. O rendimento desses títulos com vencimento em 15 de agosto de 2022 subiu para 5,85%, de 4,1% em 30 de abril.

"Movimentos de curto prazo não refletem a dinâmica da estratégia que adotamos", disse o Safra Asset Management em comunicado enviado por email. "Nossa história de 10 anos de resultados é prova disso." O Safra Galileo Master FIM ganhou 6% de 7 de julho a 14 de junho, segundo dados compilados pela Bloomberg.

O sucesso do Itaú no período reflete a crença de que "o cenário embutido nos preços dos ativos no Brasil era otimista demais e dificilmente se materializaria", disse Marcello Siniscalchi, diretor de investimentos e co-chefe do Itaú Asset Management em São Paulo. "Fizemos apostas contrárias porque apostamos que os prêmios de risco iriam se ampliar globalmente", disse Siniscalchi, cujo área conta com mais de 100 pessoas responsáveis ??pela gestão de R$ 600 bilhões.

O fundo Hedge Plus do Itaú fez essa aposta pagando taxas de juros - uma aposta de que elas iriam subir - e ficando vendido em ações. Para proteger essas posições, o fundo também ficou comprado em real, com base na visão de que o balanço de pagamentos do país é forte e de que as reservas internacionais são altas. Ele também previu corretamente que o Banco Central iria intervir no mercado de câmbio via swaps.