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EUA recebem mais imigrantes legais em meio à tensão na fronteira

Margaret Newkirk e Michael Sasso

20/06/2018 15h07

(Bloomberg) -- Enquanto a briga relacionada aos imigrantes ilegais fica cada vez mais exaltada ao longo da fronteira entre EUA e México, cresce o número de trabalhadores rurais que chega aos EUA para colher tabaco, batata doce e mirtilo -- tudo legalmente.

O número de trabalhadores imigrantes nos EUA com vistos agrícolas temporários subiu 159 por cento desde 2011 porque os fazendeiros do país estão buscando substitutos para os milhares de trabalhadores rurais ilegais que se assustaram com as políticas anti-imigração. Agora, o setor agrícola pressiona por mudanças para possibilitar que os fazendeiros dobrem o número de imigrantes legais, permitir que os trabalhadores permaneçam por mais tempo e reduzir as despesas gerais associadas à contratação deles. Algumas dessas mudanças estavam originalmente em uma das duas reformas migratórias que tramitam no Congresso, embora defensores do setor agrícola afirmem não saber se elas estarão lá quando a Câmara dos Representantes dos EUA votar nesta semana.

O atual programa de visto para trabalhadores rurais, chamado H2-A, tem sido duramente criticado pelos produtores há anos, tanto pela burocracia quanto pelos custos. Muitos evitaram usá-lo quando a mão de obra agrícola ilegal era mais abundante e os riscos eram menores. Nos últimos anos, porém, "as pessoas simplesmente deixaram de aparecer como antes", disse Paul Schlegel, diretor de políticas públicas da Federação Agrícola Americana. "O programa H2-A não é o ideal, mas é preciso avaliá-lo considerando uma possível batida do ICE [Serviço de Imigração e Controle de Alfândega dos EUA], na qual seria possível perder centenas de trabalhadores em um piscar de olhos."

Os trabalhadores ilegais, por sua vez, preferem empregos no setor da construção, que geralmente são menos sazonais e pagam melhor, disse Lee Wicker, vice-diretor da cooperativa Associação dos Produtores Agrícolas da Carolina do Norte: "os trabalhadores rurais já não estão atravessando a fronteira ilegalmente atrás de empregos agrícolas".

O Departamento do Trabalho supervisiona o programa H2-A e exige que os fazendeiros solicitem todos os anos os trabalhadores de que necessitam, anunciem empregos primeiro localmente, custeiem transporte e moradia e paguem o salário mínimo. O programa é conhecido também pelos atrasos ocasionais, que podem deixar os fazendeiros sem mão de obra quando safras estiverem prontas para a colheita.

O tamanho total da mão de obra agrícola é de aproximadamente 1 milhão de trabalhadores, segundo Schlegel. Apesar de continuar sendo minoria, a proporção de mão de obra importada legalmente vem crescendo de forma constante desde 2011, um ano depois que os estados agrícolas republicanos, em particular, começaram a aprovar leis de repressão à imigração, precursoras das políticas anti-imigração do presidente Donald Trump. Foram concedidos mais de 200.000 vistos H2-A no ano passado, contra 77.000 em 2011. Os números deste ano devem superar os de 2017, segundo dados do Departamento do Trabalho dos EUA.

Na Geórgia, um dos estados que aprovaram a repressão à imigração em 2011, o crescimento reflete o uso cada vez maior do programa H2-A para novos produtos agrícolas, disse Bryan Tolar, presidente do Conselho do Agronegócio da Geórgia. Às plantações de pêssego e cebola Vidalia do estado, colhidas há anos por imigrantes por meio do H2-A, se unem agora as safras de mirtilo, amora, pepino, melão, pimentão e abobrinha, disse ele.

Repórteres da matéria original: Margaret Newkirk em Atlanta, mnewkirk@bloomberg.net;Michael Sasso em Atlanta, msasso9@bloomberg.net