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Google enfrenta Facebook na Índia com rede social hiperlocal

Saritha Rai

25/06/2018 15h37

(Bloomberg) — Um passageiro de um trem de Mumbai presenciou um acidente no início deste mês e recorreu ao smartphone para perguntar aos vizinhos como ajudar uma pessoa que estava sangrando. As respostas chegaram instantaneamente. Avise o chefe da estação na próxima parada; peça para o cobrador ajudar com os primeiros socorros; ligue para o 138 para pedir ajuda de emergência e assim por diante. Pouco tempo depois, o passageiro postou um final feliz: a pessoa ferida tinha recebido atendimento médico.

Esse fato foi divulgado poucos minutos depois no Neighbourly, a rede social hiperlocal lançada na Índia neste mês pelo programa Next Billion Users (Próximo Bilhão de Usuários), do Google. A rede de vizinhança — que está disponível em Mumbai e em breve se expandirá para outras cidades — possibilita que fatos locais e informações cruciais sejam compartilhados com pessoas das redondezas. Os assuntos populares variam muito: fabricantes de armários de cozinha, oficinas que consertam scooters elétricas, vendedores de entradas para jogos de críquete, lojas de produtos de jardinagem e muito mais.

Como atualmente quase meio bilhão de indianos usam smartphones, o Google vê uma oportunidade de se tornar um ponto único de buscas, redes sociais e pagamentos. "Depois de ter perdido a última onda das redes sociais, o Google está tentando usar sua plataforma para se tornar um player significativo nessas áreas", diz Satish Meena, analista de previsões da Forrester Research em Nova Déli.

O Google há muito quer ser a plataforma de referência na Índia, onde os rivais Facebook e seu serviço de mensagens WhatsApp já acumularam uma enorme base de usuários e a Amazon está investindo bilhões em comércio eletrônico. O Google quer colocar centenas de milhões de indianos on-line e criar produtos que atraiam uma população diversificada, seja qual for o estrato social, o idioma falado ou o tipo de dispositivo usado. Em 2016, a empresa começou a oferecer Wi-Fi gratuito nas maiores estações de trem do país e, desde então, expandiu a oferta para 400 lugares. No ano passado, a gigante das buscas com sede em Mountain View, na Califórnia, lançou um serviço de pagamento chamado Google Tez. O Google Assistant ativado por voz já está disponível em oito idiomas indianos.

Em uma era de notícias falsas, trolls e preocupações com a privacidade, o aplicativo Neighbourly, em desenvolvimento há dois anos, poderia ajudar o Google a enfrentar o Facebook e o WhatsApp. Caesar Sengupta, que dirige a iniciativa Next Billion Users, disse, ao apresentá-lo, que o aplicativo ajudaria as pessoas a obterem informações precisas sem participar de grupos de bate-papo, que "não param de crescer e se tornam cada vez mais ruidosos", como a tendência do WhatsApp a ficar cheio de mensagens de "bom dia".

"Em geral, as redes de relacionamento social estão dominadas pelo Facebook e pelas mensagens individuais do WhatsApp", disse Brandon Verblow, analista da Forrester Research em Nova York. "Mas as oportunidades das redes locais ainda não foram totalmente exploradas."

A unidade do Google na Índia já gera cerca de US$ 1 bilhão em receita com anúncios e o aplicativo cria uma nova via com potencial para vender anúncios locais segmentados e caros, ao mesmo tempo em que coleta mais informações sobre os usuários, que podem ser usadas para vender anúncios de outros produtos. "Se o Google conseguir ganhar escala com o Neighbourly, isso pode se tornar um grande gerador de receita", diz Verblow.