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Chegou a hora da verdade para a cultura machista de Wall Street

Sridhar Natarajan e Gillian Tan

11/07/2018 15h23

(Bloomberg) -- Esta história talvez surpreenda os executivos bancários da velha escola de Wall Street.

Na terça-feira, após semanas de rumores no Credit Suisse, Paul Dexter, um alto executivo do banco, foi demitido devido a uma denúncia por comportamento inadequado envolvendo um estagiário. Os rumores agitaram os círculos de fusões e aquisições.

Só que este não foi um caso de assédio sexual, disseram pessoas a par do assunto. Foi um comportamento inadequado no local de trabalho -- algo que, não muito tempo atrás, poderia ser tolerado, ainda que de má vontade, pela diretoria de muitas empresas -- que acabou derrubando Dexter.

A demissão de um único executivo em um único banco pode parecer irrelevante nesta era do #MeToo. Mas a ascensão e queda de Dexter condensam as novas realidades em um setor que sempre aplaudiu os grandes egos e a fanfarronice. O caso demonstra que uma denúncia tem cada vez mais probabilidade de ativar uma investigação mais ampla e trazer à tona outras denúncias, colocando um ponto final em uma carreira.

Dexter não respondeu às mensagens em busca de comentários.

Promoções

Dexter, um negociador de acordos do banco suíço, foi durante muito tempo uma imagem imponente dentro da instituição. Alguns amigos diziam que ele se gabava de intimidar colegas juniores e os rumores sobre seu comportamento persistiam. O banco chegou a tomar a medida pouco comum de impedir que Dexter recrutasse estudantes universitários por causa de reclamações.

E, mesmo assim, Dexter, 37, continuava subindo na hierarquia. Não faz muito tempo, ele foi promovido a diretor executivo de fusões e aquisições, depois de ter desempenhado um papel de primeira linha na organização do acordo Bayer-Monsanto, de US$ 63 bilhões. Agora Dexter -- um personagem que, segundo alguns, faz lembrar a Wall Street selvagem dos anos 1980 -- foi demitido abruptamente, derrubado por uma mudança cultural que está se estendendo por todo o mundo empresarial dos EUA.

No Credit Suisse, sua remoção foi parecida a um julgamento sumário: chegou-se a um veredicto três semanas após a denúncia. Mas, nos bastidores, houve idas e voltas que foram criticadas dentro e fora da empresa. Em alguns pontos, as tentativas de dissipar rumores ou de acalmar a situação só serviram para exacerbar ainda mais o assunto.

"Dispomos de políticas e canais robustos de encaminhamento, por meio dos quais os funcionários podem relatar queixas sobre condutas, e encorajamos todos os funcionários a fazer isso", disse Karina Byrne, porta-voz do Credit Suisse Group em Nova York, que confirmou a saída de Dexter. "Quando aparecem reclamações, elas são investigadas minuciosamente e, se for o caso, as consequências são devidamente aplicadas."

O incidente do mês passado que desencadeou a investigação foi inicialmente relatado por Dealbreaker. Supostamente, Dexter estava bêbado e intimidou fisicamente um estagiário, disseram pessoas com conhecimento do assunto.

Repórteres da matéria original: Sridhar Natarajan em N York, snatarajan15@bloomberg.net;Gillian Tan em NY, gtan129@bloomberg.net