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EUA vivem nova era de verificação de antecedentes no trabalho

Michael Sasso e Jeff Green

11/07/2018 15h49

(Bloomberg) -- Jay Cradeur se orgulha de sua nota de 4,9 como motorista na escala de cinco estrelas da Uber Technologies e das quase 19.000 corridas que fez na capital do serviço de transporte, São Francisco. Por isso ele ficou desconcertado -- e irritado -- quando a Uber o expulsou da sua plataforma em dezembro.

Mal sabia ele que tinha sido vítima de uma prática cada vez mais comum entre os empregadores dos EUA: verificações regulares de antecedentes dos trabalhadores além da avaliação de rotina antes da contratação. A verificação da Uber após o contrato marcou Cradeur com um alerta vermelho, um problema que demorou seis semanas para ser resolvido e que a companhia depois atribuiu a um "erro técnico".

Não se sabe ao certo quantas empresas monitoram constantemente os funcionários, mas a indústria de verificação de antecedentes experimentou um crescimento explosivo nos últimos anos nos EUA. O número de membros da Associação Nacional de Profissionais de Verificação de Antecedentes aumentou mais de quatro vezes, de 195 quando foi fundada em 2003 para 917 no ano passado, disse Scott Hall, presidente da associação e diretor operacional da empresa de verificação FirstPoint.

"Acho que a preocupação é causada pelo medo de não ter detectado algo da primeira vez ou de pensar: 'Será que nós sabemos realmente quem está trabalhando para nós?", disse John Hyman, advogado trabalhista de Cleveland que constatou um aumento das consultas de donos de empresas nos últimos seis meses sobre verificações de antecedentes.

Movimento MeToo

"Eu acredito que o movimento MeToo também influi nisso, porque eles se perguntam: 'Será que temos pessoas com potencial para assediar?'", acrescentou ele.

As empresas estão procurando chegar a um equilíbrio entre as preocupações com a privacidade e a crescente pressão para melhorar a erradicação de funcionários que possam roubar, assediar ou até mesmo cometer atos de violência no local de trabalho. Alguns incidentes graves com motoristas da Uber levaram os empregadores a tomar medidas, como o caso de um motorista do Uber Eats em Atlanta que supostamente atirou e matou um cliente em fevereiro.

Funcionários de saúde e de serviços financeiros passam por investigações adicionais há anos, mas a prática de realizar verificações periódicas ou constantes tem se espalhado para outros setores, entre eles empresas de manufaturas e também o varejo, nos últimos seis a 12 meses, disse Tim Gordon, vice-presidente sênior da empresa de verificação de antecedentes InfoMart.

Advogados trabalhistas e defensores dos trabalhadores pedem cautela devido à inevitabilidade de que informações erradas apareçam em verificações periódicas e ressaltam que delitos anteriores nem sempre são sinal de mau comportamento no futuro.

"As empresas de verificação de antecedentes são muito boas no marketing da responsabilidade dos empregadores", disse E. Michelle Drake, advogada do escritório Berger & Montague. "Eu acredito que muitos empregadores dizem 'estou comprando, pelo menos, a ilusão de segurança'. Mas na minha opinião, o que eles estão comprando na verdade é apenas um teatro. Eu acho que é uma ilusão e que eles podem estar perdendo a oportunidade de contratar trabalhadores muito bons por causa disso."

Quanto ao motorista Cradeur, a Uber reativou sua conta e deu a ele US$ 1.000 como ressarcimento por seus problemas depois que ele provou que era inocente. Mas a ferida ainda precisa cicatrizar. "Nos últimos dois meses, eu dirigi quase exclusivamente para a Lyft", disse ele. "Isso definitivamente deixou um sabor amargo."

--Com a colaboração de Zoya Khan.

Repórteres da matéria original: Michael Sasso em Atlanta, msasso9@bloomberg.net;Jeff Green em Michigan, jgreen16@bloomberg.net