IPCA
0,83 Mai.2024
Topo

Google ofereceu acordo à UE para processo do Android

Aoife White e Stephanie Bodoni

23/07/2018 11h58

(Bloomberg) -- A comissária de Concorrência da União Europeia, Margrethe Vestager, não perdeu a frieza ao aplicar uma multa de 4,3 bilhões de euros (US$ 5 bilhões) ao Google na semana passada, a maior penalidade da história da fiscalização antitruste.

Não precisava ter sido assim.

Um ano antes, quando a empresa -- que se recuperava de uma multa de 2,4 bilhões de euros aplicada no âmbito de outro processo da UE -- fez tentativas silenciosas de fechar um acordo para encerrar a investigação com base nos contratos mantidos com fabricantes de celulares Android, a resposta foi igualmente fria.

A gigante de buscas on-line do Vale do Silício demorou pelo menos um ano para abordar o assunto a respeito de um possível acordo, disse Vestager, 50, em entrevista. Quando uma empresa quer fechar acordo, precisa "fazer uma abordagem imediatamente depois" de receber a queixa inicial ou a declaração de objeções da UE.

"Não foi o que aconteceu neste caso e, claro, tomou o caminho que tomou", disse Vestager sobre as negociações do acordo, que nunca haviam sido noticiadas. "Portanto, não há surpresas."

O Google, uma unidade da Alphabet, é um dos maiores alvos antitruste da UE, com três investigações, inúmeras manchetes e um coro constante de rivais menores e clientes exigindo medidas. A empresa, agora, acumula dois fracassos no tocante às tentativas de fechar acordos que resolveriam processos relacionados aos seus serviços de compras e ao Android, que tiveram como resultado um total de 6,7 bilhões de euros em multas -- e existe a ameaça iminente de mais multas pela frente.

O Google preferiu não comentar sobre as tentativas de acordo. O Google apelará da decisão da UE, disse o CEO Sundar Pichai em postagem de blog. A empresa "mostrou que está disposta a efetuar mudanças", disse.

Semanas após a multa aplicada em junho de 2017 no processo das compras, os advogados do Google começaram a fazer abordagens aos seus colegas da UE para mostrar a disposição de fechar acordo para a investigação sobre o Android, um dos principais produtos da empresa. As tentativas anteriores de iniciar um diálogo com a UE sobre formas de encerrar a investigação não avançaram porque as autoridades criavam entraves ou diziam que era cedo demais para negociar, segundo pessoas a par das negociações.

O incentivo da empresa com sede em Mountain View, Califórnia, para fechar acordo para a investigação do Android era fácil de ver.

O Google oferece o software Android gratuitamente aos fabricantes de celulares, mas os obriga a pré-instalar aplicativos do Google se desejarem a loja de aplicativos Play, que oferece mais de um milhão de programas. A gigante de buscas on-line também paga fabricantes de telefones, operadoras de telecomunicações e outros produtores de navegadores para que rodem o mecanismo de busca do Google, que coleta dados dos usuários. Graças a esses acordos, o Google capturou quase US$ 50 bilhões em vendas anuais no mercado de anúncios para dispositivos móveis, um terço do mercado global, segundo a empresa de pesquisas EMarketer.

--Com a colaboração de Stephanie Bodoni.

Repórteres da matéria original: Aoife White em Bruxelas, awhite62@bloomberg.net;Stephanie Bodoni em Luxemburgo, sbodoni@bloomberg.net