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Aposta em notícia da GE rende US$ 23 mi e investigação criminal

Gaspard Sebag

24/07/2018 11h51

(Bloomberg) -- Investigadores franceses desconfiam que um investidor ganhou 20 milhões de euros (US$ 23 milhões) ilegalmente com apenas uma aposta, após obter uma dica em 2014 sobre o plano da General Electric de comprar parte da Alstom.

A transação, realizada com derivativos, é uma entre diversas suspeitas de negociação com informação privilegiada pelo francês Alexis Kuperfis, de 38 anos, que estão sendo investigadas criminalmente, de acordo com detalhes de uma decisão tomada pela suprema corte do país no mês passado.

A aposta na Alstom foi a que mais rendeu em um período de nove meses, mas os investigadores também têm suspeitas sobre quase 4 milhões de euros que Kuperfis teria embolsado na mesma época, negociando quatro outros instrumentos financeiros, incluindo ativos da companhia francesa de cimento Lafarge.

A decisão judicial revela parte de uma investigação em expansão sobre insider trading na França, envolvendo várias outras pessoas e ativos financeiros. O inquérito criminal avalia negociações suspeitas ao longo de vários anos com ações de dez empresas que incluem o banco Natixis e a operadora de telefonia Bouygues.

Air Liquide

Alguns homens, incluindo Kuperfis, já foram indiciados com relação a um aspecto investigado: negociações com informações privilegiadas antes de a distribuidora de gases industriais e hospitalares Air Liquide comprar a Airgas por US$ 13,2 bilhões, de acordo com duas pessoas a par do assunto que pediram anonimato.

Advogado de Kuperfis, Loic Henriot afirma que seu cliente não foi acusado de má conduta em relação ao acordo GE-Alstom. Nem GE nem Alstom são citadas como suspeitas de envolvimento no esquema.

A decisão judicial detalha que os investigadores solicitaram operações de busca e apreensão após concluírem que um gestor agindo em nome de Kuperfis ampliou gradualmente a posição dele em ações da Alstom três semanas antes de a imprensa noticiar o plano da GE de comprar a divisão de energia da companhia francesa, na noite de 23 de abril de 2014. As ações da Alstom tiveram a maior alta em uma década após a notícia e, segundo investigadores, Kuperfis realizou lucro logo em seguida.

Lucro 'enorme'

Alexandre Bisch, advogado do escritório parisiense Debevoise & Plimpton, que não está envolvido com Kuperfis, diz que nunca ouviu falar de um caso de insider trading na França com lucro tão grande. "Isso provavelmente explica o envolvimento das autoridades criminais."

Episódios de negociação de ativos com informações privilegiadas no país geralmente são investigados como violação civil pela Autoridade dos Mercados Financeiros (AMF). Neste caso, os investigadores criminais usaram escutas e inspecionaram de surpresa diversos locais em território nacional, de resorts de ski a residências em bairros chiques de Paris.

A decisão da Cour de Cassation revela que as similaridades observadas em cinco apostas bem sucedidas de Kuperfis em um período de nove meses chamaram a atenção dos investigadores franceses, que então solicitaram a operação de busca e apreensão.

Posições gigantescas

Para cada uma das cinco transações suspeitas, o gestor dele construiu posições gigantescas ? usando os chamados contratos de diferença ? poucos dias antes de anúncios de fusão ou alertas sobre os resultados das empresas e então liquidou as posições no dia em que a notícia saía ou alguns dias depois, de acordo com o veredito do tribunal superior francês. Contratos de diferença são derivativos que amplificam apostas em oscilações dos preços das ações a partir de um depósito relativamente pequeno.

"A opção por um instrumento financeiro altamente alavancado, as grandes quantidades compradas, o momento muito oportuno das transações e a repetição das operações durante um período curto" sinalizam "a natureza objetivamente suspeita das transações", afirmou a Autoridade dos Mercados Financeiros quando solicitou a busca e apreensão, de acordo com a decisão da Cour de Cassation.