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Partido de Lula usa todas as armas para lançar sua candidatura

Simone Iglesias

14/08/2018 06h00

(Bloomberg) -- Centenas de manifestantes estão chegando à capital federal em caravanas de vários estados, advogados travam uma batalha jurídica, enquanto filiados do PT promovem greve de fome e protestos para que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva possa concorrer a mais um mandato nas eleições deste ano. Na quarta-feira, está prevista uma caminhada pela Esplanada dos Ministério até a sede do Tribunal Superior Eleitoral, culminando com uma espécie de comício das principais lideranças petistas, antes do partido formalizar o pedido de registro de Lula.

Publicamente, o PT está atuando de todas as formas para que Lula obtenha junto ao Tribunal Superior Eleitoral o registro de sua candidatura, ameaçando até não reconhecer as eleições de outubro se ele for barrado pela Lei da Ficha Limpa. No entanto, nos bastidores, muitos dirigentes petistas admitem que o plano B, a candidatura do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, já movimenta as engrenagens do partido, sendo um caminho sem volta.

É consenso internamente que o PT deve tentar registrar Lula nesta quarta-feira e aguardar a decisão do TSE, prevista para ser tomada entre o fim de agosto e primeira semana de setembro. A partir daí, o que se vê são duas correntes: uma, majoritária silenciosa, que avalia que já seria a hora de substituir oficialmente o ex-presidente por Haddad; e outra, minoritária ruidosa, que não admite que Lula se retire, nem que isso coloque em risco o pleito.

"Vamos com a candidatura de Lula até o fim. Nosso candidato é Lula e nossa luta é por Lula. Vamos até o fim, vamos ultrapassar o dia 17 de setembro (data limite para substituição de candidatos) O PT não vai retirar a candidatura", disse à Bloomberg o senador Lindbergh Farias (PT-RJ). Mesma linha é seguida pela presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann. Em entrevista nesta segunda-feira a correspondentes internacionais ela disse que se Lula for retirado do processo eleitoral, a eleição será "ilegítima".

Em tom mais moderado, o senador Humberto Costa (PT-PE) fala em respeito às instituições:"Lula é um democrata, um amante da liberdade e tem profundo respeito pelas instituições. Vai jogar dentro das regras do jogo e vai ganhar."

Dúvidas sobre a candidatura de Lula acentuam o que já é a eleição mais incerta desde a primeira disputa pelo voto direto depois da redemocratização no Brasil, em 1989. Com 13 candidatos presidenciais na disputa deste ano, nenhum favorito e com alto índice de indecisão dos eleitores, é uma corrida ainda aberta e sem virtual vencedor.

Mesmo que Lula não concorra, ele tem alto capital político e capacidade de transferir milhares de votos. Seu apoio poderá ser suficiente para levar Haddad ao segundo turno. De acordo com pesquisa do Instituto Datafolha, o ex-presidente pode chegar a transferir 30% dos votos ao seu candidato nacionalmente. Pesquisas internas do PT apontam que este índice pode ser maior na região Nordeste.

Na avaliação do analista político Thiago de Aragão, da Arko Advice, Lula é um cabo eleitoral importantíssimo, mesmo que não esteja no auge de sua popularidade, que atingiu 87% de aprovação em 2010, quando encerrou seu segundo mandato. "Acredito numa transferência de 10% a 15% de Lula para Haddad e, numa eleição diluída e curta como esta, um candidato ter esse percentual pode ficar muito próximo do segundo turno".

Os eleitores podem não saber até três semanas antes do dia das eleições se Lula, o atual líder em pesquisas de opinião, pode concorrer. O dia 17 de setembro é o prazo limite para o TSE julgar ações e recursos sobre candidaturas. Mas, depois disso, o PT poderá recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF). Não está claro na legislação se os ministros do STF têm que respeitar o mesmo prazo da Corte Eleitoral.

Lula, que já foi chamado do político mais popular da Terra pelo ex-presidente americano Barack Obama, agora cumpre sentença de 12 anos de prisão após condenação por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Ao mesmo tempo que é amado por seus partidários por tirar milhões de pessoas da pobreza durante seus dois mandatos, ele é odiado por muitos por promover um governo de coalizão e de compadrio que fomentou a corrupção em escala jamais vista no país.

A importância e também polêmica que cerca a figura de Lula se tornou evidente nos dias que antecederam o primeiro debate entre os presidenciáveis na TV, semana passada. Durante dias, a mídia, partidos políticos e advogados se engajaram em um debate acalorado sobre se ele deveria ter o direito a uma cadeira vazia, um pedido que lhe foi negado.

A estratégia é que o PT aproveite o máximo possível a popularidade de Lula e continue o retratando como vítima de perseguição política, avalia Thiago Aragão: "Há consenso dentro do PT de que Lula não vai concorrer, mas grande parte da narrativa do partido é se insurgir diante de uma injustiça. Para que essa narrativa seja usada ao máximo, Lula tem que manter o argumento de candidatura até o último dia possível".

--Com a colaboração de Vinícius Andrade e Mario Sergio Lima.