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Declínio de vendas é grande no país que inventou o carro

Stefan Nicola

17/08/2018 14h46

(Bloomberg) -- Durante anos, Martin Brüsch usou seu Audi A4 211 cv para fazer o trajeto de 20 minutos até o escritório.

Agora, nos dias úteis, o carro geralmente fica estacionado em frente ao seu apartamento no abastado bairro de Charlottenburg, em Berlim, e o executivo de recursos humanos de 32 anos usa um novo serviço de carona compartilhada.

"Para ser verdadeiramente sincero comigo mesmo, ter um carro é caro demais, com tantas alternativas por aí", disse Brüsch enquanto entrava em um dos Nissan Leaf movidos a bateria da CleverShuttle em uma noite deste mês.

Jovens como Brüsch dirigem cada vez menos e assim aceleram a transição para o que se está sendo chamado de "pico de carro" (peak car) -- um momento em um futuro não tão distante em que as vendas de veículos particulares no Ocidente se estabilizarão e depois sofrerão uma rápida queda.

Reinvenção

Este é um momento de reavaliação para um setor que contou com três coisas desde que o automóvel foi inventado na Alemanha há mais de um século: os carros funcionavam com motores a combustão, as pessoas não só queriam ter um carro, mas também queriam ser os únicos a dirigi-los. Na era do compartilhamento de carros, com frotas movidas a bateria e carros autônomos chegando, as fabricantes precisam se reinventar como empresas de mobilidade para sobreviver.

Não surpreende, então, que a Daimler, a fabricante dos veículos de luxo da Mercedes-Benz, tenha comprado uma participação na CleverShuttle depois que esta começou a operar em 2016. O serviço usa um aplicativo do tipo Uber para conectar pessoas que buscam uma carona com outras pessoas do mesmo bairro. Nas cinco cidades alemãs em que está sendo usado, o número de usuários mais do que dobrou desde janeiro, para 650.000.

Dentro de cinco anos esses serviços vão afetar as vendas de automóveis, tornando as fabricantes de carros vulneráveis se não encontrarem formas de aumentar suas receitas, segundo a consultoria Berylls Strategy Advisors, com sede em Munique. Até 2030, nos EUA, onde há mais dados disponíveis, Berllys prevê que as vendas totais de carros -- individuais e para compartilhar -- cairão quase 12 por cento, para 15,1 milhões de veículos.

"Será a primeira vez que as fabricantes de automóveis terão que enfrentar um declínio que é estrutural, e não decorrente de fatores temporários como uma crise econômica", disse Arthur Kipferler, consultor da Berylls que, trabalhou na Jaguar Land Rover Automotive. A marca de propriedade da Tata Motors Ltd. neste ano se associou ao serviço planejado de táxi autônomo Waymo, da Alphabet Inc., para entregar 20.000 crossovers elétricas I-Pace.

O problema é que isso não é tão simples quanto substituir as vendas de carros pela receita dos serviços de mobilidade. Embora pesos-pesados alemães como Daimler, BMW e Volkswagen tenham investido centenas de milhões de euros em diversos esquemas de transporte particular e de carona compartilhada, eles estão longe de zerar os prejuízos.

"As fabricantes estão desesperadas para monetizar suas divisões de mobilidade", disse Michael Dean, analista sênior do setor automotivo da Bloomberg Intelligence. "Elas precisam se envolver em mobilidade no futuro para não serem deixadas para trás por empresas como Uber e Lyft."