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Queda de ponte na Itália mostra racha em coalizão populista

Gregory Viscusi e Chiara Albanese

17/08/2018 12h36

(Bloomberg) -- A queda de uma ponte rodoviária de 50 anos no norte da Itália, nesta semana, evidenciou as tensões dentro da coalizão populista que governa o país.

O Movimento 5 Estrelas, antiestablishment, e a Liga, partido anti-imigração, até agora vêm conseguindo trabalhar juntos no governo em áreas nas quais discordavam durante a campanha eleitoral deste ano, como a limitação da imigração, a ampliação de benefícios para os italianos mais pobres e a simplificação do sistema tributário. Mas no que diz respeito aos grandes projetos de infraestrutura, a coabitação pode ser mais difícil.

A maneira em que resolverão esse conflito moldará a visão dos investidores estrangeiros a respeito da Itália e a disposição deles para investir na terceira maior economia da zona do euro.

O Movimento 5 Estrelas, do vice-primeiro-ministro Luigi Di Maio, nasceu como um movimento ambientalista e se opôs a projetos como um trem de alta velocidade que ligaria a Itália e a França e um anel rodoviário em torno de Gênova -- que teria desviado parte do trânsito da ponte que desabou na terça-feira matando pelo menos 38 pessoas. Seu colega, o vice-premiê Matteo Salvini, da Liga, recebe boa parte de seu apoio de empresas do norte e é um defensor entusiasta da expansão dos transportes e das conexões de energia.

Por isso, após o acidente de terça-feira, Salvini apontou o dedo para as restrições impostas pela União Europeia, insinuando que elas haviam evitado gastos com manutenção e contribuído para o desastre. Di Maio concentrou seu fogo na operadora privada da rodovia, a Autostrade per l'Italia, pertencente à Atlantia.

"Tem havido uma divisão de tarefas na forma de eles responderem à tragédia de Gênova, o que apenas ressalta as profundas divisões que estão tentando resolver", disse Carlo Alberto Carnevale Maffe, professor de estratégia de negócios da Universidade Bocconi, de Milão, em entrevista.

Política de coalizão

O racha aumentou um pouco na quinta-feira quando Di Maio prometeu revogar a concessão da Autostrade sem pagar multa. Salvini disse que os esforços de resgate devem ter prioridade e sugeriu que o governo pode ser mais flexível com a Autostrade se a empresa usar seus lucros para indenizar as vítimas e oferecer gratuidade no pedágio.

Um telefonema do órgão regulador de mercado, a Consob, ao gabinete do premiê alertando sobre a volatilidade e os custos da retirada da concessão, divulgado pelo La Stampa nesta sexta-feira, pode não ajudar a aproximar os dois lados.

O jornal noticiou que Salvini foi informado por sua equipe de que o custo para a retirada da licença pode chegar a 20 bilhões de euros, mas que Di Maio manteve sua opinião. "Quem não quiser revogar a licença terá que passar por cima do meu cadáver. O governo não está recuando, está acelerando o passo", declarou, segundo reportagem do La Stampa.

Um comunicado do Ministério dos Transportes na noite de quinta-feira informou que a Autostrade pode manter a concessão dependendo das ações que tomou antes da tragédia.

Poucos analistas preveem que a coalizão durará cinco anos inteiros e ambos os lados são sensíveis a mudanças de sentimento que poderiam perturbar o equilíbrio e desencadear uma eleição, colocando-os frente a frente novamente. Desde a eleição de março, Salvini eliminou uma diferença de 17 pontos percentuais e superou Di Maio nas últimas pesquisas, o que dá uma vantagem a ele em uma possível disputa.

--Com a colaboração de Lorenzo Totaro.

Repórteres da matéria original: Gregory Viscusi em Paris, gviscusi@bloomberg.net;Chiara Albanese em Roma, calbanese10@bloomberg.net