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Expansão dos EUA abala cenário econômico no resto do mundo

Enda Curran e Lucy Meakin

22/08/2018 14h59

(Bloomberg) -- O resto do mundo não está participando do clima de festa na economia dos EUA.

A alta do dólar e dos juros já sufoca economias emergentes e a guerra comercial do presidente Donald Trump ameaça a China. Ainda assim, o único integrante do Grupo dos Sete que deve registrar aceleração do crescimento econômico neste ano é os EUA, embalado pelo pacote de corte de impostos de Trump.

O desalento após a breve euforia em relação à expansão global sincronizada está evidente nos mercados financeiros. A NatWest Markets aponta que uma cesta dos chamados ativos de crescimento ? como o dólar australiano e o cobre ? acumula queda de 4,5 por cento em 2018, enquanto o Standard & Poor's 500 avançou 7 por cento.

A diferença de performance "certamente captura a natureza desequilibrada do crescimento neste ano", afirma Jim McCormick, estrategista-chefe multimercados da NatWest.

O cenário global dará o tom das discussões durante o simpósio anual do banco central americano (Federal Reserve) nesta semana em Jackson Hole, no Estado de Wyoming. Os dois acréscimos na taxa básica de juros pelo Fed em 2018 contribuíram para a valorização de quase 6 por cento do dólar ponderado pelas trocas comerciais. A apreciação cambial torna mais caro o pagamento de empréstimos por tomadores do exterior.

Para Mark Nash, responsável por renda fixa na Old Mutual Global Investors, a situação da economia doméstica fará com que o Fed continue subindo os juros, mas isso poderá criar problemas adiante.

"Quando a dor nos mercados emergentes ficar especialmente aguda, isso naturalmente se espalhará para os EUA e mudará o quadro em termos da gestão da política monetária doméstica pelo Fed", ele disse em entrevista à Bloomberg Television. "Por enquanto, não há como culpar Powell, mas as implicações podem persegui-lo mais tarde", ele acrescentou, se referindo ao presidente do BC americano.

A moderação fora dos EUA é visível. Segundo o JPMorgan Chase, embora o crescimento global esteja acima da tendência de longo prazo graças aos EUA, a parcela de países com desempenho acima do potencial encolheu de aproximadamente 80 por cento em 2017 para 60 por cento.

Na China, a economia tirou o pé do acelerador após a restrição dos empréstimos mais arriscados e a disputa comercial com os EUA. Os especialistas também observam desaquecimento no Japão.

Em muitos países europeus, indicadores de confiança e sondagens pioraram neste ano, em parte devido a preocupações com as exportações. Em junho, as encomendas às fábricas da Alemanha - que são referência para a produção futura na maior economia da zona do euro - registraram a primeira queda anual em quase dois anos.

A Itália está em rota de colisão com investidores por causa de um plano fiscal com implicações para o custo da dívida. No Reino Unido, a incerteza em relação à saída da União Europeia persiste.

No mundo emergente, a lira desabou com a crise política na Turquia, a Venezuela executou um dos maiores movimentos de depreciação cambial já vistos e a Argentina está levando os juros às alturas para proteger o peso. Nenhum desses países arrastaria a economia global para uma recessão, mas as consequências sobre a confiança podem ser dolorosas se o estrago chegar a mercados emergentes mais relevantes, como o Brasil.

Ainda assim, o comércio internacional está se deteriorando. As taxas de crescimento em economias emergentes diminuíram em um quinto em agosto, segundo índice apurado em parceria por Kuehne + Nagel Group. A estimativa é que o fluxo comercial envolvendo Brasil, Coreia do Sul, Taiwan e Índia esteja encolhendo a um ritmo anual de mais de 5 por cento.

--Com a colaboração de Guy Johnson e Matthew Miller.

Repórteres da matéria original: Enda Curran em Hong Kong, ecurran8@bloomberg.net;Lucy Meakin em London, lmeakin1@bloomberg.net