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Alimentos 'livres de' mudam maneira de produzir refeições

Jen Skerritt, Megan Durisin e Craig Giammona

10/09/2018 12h54

(Bloomberg) -- A General Mills investiu cinco anos e construiu uma instalação especial de classificação de oito andares para se livrar de um ingrediente que não estava em seu cereal.

Para garantir que algumas variedades do Cheerios -- feito de aveia, portanto naturalmente sem glúten -- não contivessem sequer partículas minúsculas da proteína que pudessem ter sido trazidas pelo vento de plantações vizinhas, a empresa despachou uma equipe de engenheiros para reequipar máquinas para classificar 450.000 toneladas de aveia por ano.

"Não foi fácil", disse Mike Siemienas, porta-voz da empresa de alimentos com sede em Minneapolis, que preferiu não informar o gasto com o esforço. "Sabíamos que se quiséssemos tornar nosso Cheerios livre de glúten, precisaríamos criar nosso próprio sistema."

A crescente demanda por alimentos "livres de" certos itens -- como glúten, antibióticos, pesticidas ou modificação genética -- está mudando as operações de compra, processamento e embalagem de alimentos nas empresas. As vendas desses alimentos deverão crescer 15% nos EUA, ou US$ 1,4 bilhão, de 2017 a 2022, segundo dados da Euromonitor. Os EUA são o maior mercado global em termos de crescimento da tendência de alimentos "livres de" em um momento em que os consumidores buscam restringir certos ingredientes ou aditivos em suas dietas.

Risco de obsolescência

O crescimento das vendas das empresas norte-americanas de alimentos embalados vem perdendo bastante força desde meados de 2011, o que reflete uma mudança na demanda em direção aos alimentos frescos e orgânicos, disse Kenneth Shea, da Bloomberg Intelligence, em relatório de julho. O S&P 500 Packaged Foods Sub Industry Index caiu 9% neste ano e os principais nomes do setor enfrentam dificuldades para encontrar a fórmula certa para o crescimento.

"Sabemos que temos que continuar evoluindo", disse Kyle Lock, diretor sênior de marketing de varejo da Butterball, com sede em Garner, na Carolina do Norte, a maior produtora de peru dos EUA. Sem mudanças para os consumidores que buscam outras opções, "corremos algum risco de obsolescência, ou pelo menos de ter algum declínio".

Enquanto o setor de alimentos e bebidas cresceu 1,9% nos últimos 12 meses, as versões "livres de" estão se expandindo mais rapidamente, segundo dados da Nielsen. Os produtos rotulados como sem antibiótico tiveram índices de crescimento de cerca de 20%, seguidos pelos produtos sem soja, com 19%, e por aqueles sem hormônios e antibióticos, com 15%.

"A tendência da saúde se dá há algum tempo, mas o desafio das grandes empresas de alimentos embalados é encontrar a forma de ganhar dinheiro com isso", disse Shea, da Bloomberg. "Muitas empresas estão enfrentando essa crise de identidade no momento."

Algumas das maiores empresas de alimentos tomaram medidas para atender os clientes mais exigentes. O McDonald's, um dos maiores compradores de carne bovina do mundo, planeja comprar no ano que vem mais de 20 milhões de hambúrgueres Angus no Canadá provenientes de fazendas e ranchos com certificação de sustentabilidade. A Tyson Foods, a maior empresa de carnes do país, comprou a produtora de frangos orgânicos Tecumseh Poultry neste ano. A Ardent Mills, o maior moinho de trigo dos EUA, criou a "The Annex", uma unidade que está tentando encontrar o futuro dos grãos especiais e dos ingredientes à base de plantas.

"Os americanos querem saber cada vez mais o que há nos produtos que compram e como eles são feitos", disse Sergio Fuster, presidente da divisão de iogurtes para os EUA da unidade norte-americana da Danone.