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Energia solar sem subsídios começa a se espalhar pela Europa

Anna Hirtenstein

10/09/2018 16h09

(Bloomberg) -- Ao lado de um campo de trigo ao norte de Londres, bancos de painéis solares em 35 filas bem organizadas estão gerando eletricidade sem apoio do governo.

Embora o céu nublado do Reino Unido seja famoso, a incorporadora de capital fechado Anesco está construindo as instalações híbridas com painéis solares e baterias em Milton Keynes com capital próprio. Este é apenas um dos cerca de 15 projetos fotovoltaicos em andamento, da Itália ao Reino Unido, que não dependem de subsídios para obter lucro, de acordo com a Bloomberg NEF, que projeta que muitos outros virão.

Os países europeus estão abrindo caminho porque eles foram alguns dos primeiros a financiar parques solares com preços da eletricidade superiores aos do mercado e com incentivos fiscais no começo da década de 2000. Isso desencadeou um boom global de fabricação e uma forte queda de 80 por cento no custo de instalação de painéis fotovoltaicos. Agora, os governos estão diminuindo incentivos à medida que os preços caem e as energias renováveis podem concorrer com os combustíveis fósseis em mais locais.

"A mudança chegou porque muitos governos acreditam que já não é mais necessário apoiar as tecnologias maduras que experimentaram reduções importantes dos custos", disse Michelle Davies, diretora de energia limpa e sustentabilidade no escritório de advocacia Eversheds Sutherland. "Eles opinam que o setor avançou o suficiente para permitir que o mercado encontre suas próprias soluções."

Sem incentivos

Na Alemanha e na Espanha, incentivos na forma de contratos de oferta padrão (feed-in) para a eletricidade gerada com energia solar tornaram fácil antecipar quanto cada projeto ganharia. Isso deu a investidores e banqueiros conforto suficiente para dar empréstimos ao setor.

Agora, os incorporadores estão começando a construir usinas que não dependem desses mecanismos. Seus custos são baixos o suficiente para permitir-lhes lucrar com a venda de eletricidade a preço de mercado ou assinando contratos de longo prazo para a compra de energia limpa (PPA, na sigla em inglês) com os grandes consumidores industriais. Na busca por um impacto energético mais ecológico, várias empresas, como AT&T, Facebook e Apple, têm sido compradoras destacadas de PPA. Esses contratos são usados como garantia para os bancos que emprestam dinheiro para os custos de construção.

Os banqueiros estão começando a atender incorporadores com PPA. Recentemente, o alemão Norddeutsche Landesbank Girozentrale forneceu 100 milhões de euros em empréstimos-ponte à BayWa para painéis fotovoltaicos perto de Sevilha, Espanha. A Statkraft concordou em comprar eletricidade da usina por até 15 anos.

As autoridades já perceberam a situação. Governos têm diminuído subsídios, encerrando alguns com antecedência e eliminando outros gradualmente. Os mesmos fatores econômicos que estão reduzindo o custo da energia solar a ponto de ela ser capaz de sobreviver por conta própria também estão começando a valer para outras tecnologias.

"É um acontecimento emocionante, mas a grande pergunta é quais serão os preços da eletricidade no futuro", disse Pietro Radoia, analista da Bloomberg NEF em Milão. "Ou os incorporadores de projetos conseguem contratos de longo prazo, muito valorizados pelos credores de dívida, ou acabarão expostos às variações de preços, que são difíceis de projetar para daqui a 10 anos."