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Fed pode ajudar mulheres no local de trabalho: Bloomberg Opinion

Karl W. Smith

26/09/2018 12h06

(Bloomberg) -- O Federal Reserve, o banco central dos EUA, deve aumentar as taxas de juros em 0,25pp nesta semana. No entanto, há receios de que esse aumento talvez seja prematuro: de acordo com o indicador preferido do Fed, a inflação está sob controle e, embora a taxa de desemprego esteja baixa, o crescimento dos salários até agora foi brando.

Porém, existe outro motivo para não elevar os juros, um motivo que não tem recebido muita atenção. Historicamente, mercados de trabalho apertados tenderam a empoderar os menos privilegiados, particularmente as mulheres e as minorias. O Fed deveria tomar cuidado para não reduzir essa tendência antes que ela tenha chance de afetar mulheres em todo o mercado de trabalho.

Os economistas há muito desconfiam que a escassez de trabalhadores pode desempenhar um papel no avanço dos direitos civis. A imagem da operária Rosie the Riveter durante a Segunda Guerra Mundial refletiu mudanças nas expectativas sobre os tipos de trabalho que as mulheres podiam fazer.

Claudia Goldin, economista de Harvard, mostrou que o uso das chamadas políticas de "exclusão das casadas" - por meio das quais as empresas não contratavam mulheres casadas e demitiam mulheres solteiras quando elas se casavam - entrou em colapso durante a década de 1940. O fim dessas políticas, combinado com a queda do desemprego e o aumento da demanda por mão de obra, levaram a um aumento nas taxas de participação de mulheres casadas na força de trabalho. Em 1940, de acordo com Goldin, apenas 13,8 por cento das mulheres brancas e casadas entre 35 e 44 anos estavam no mercado de trabalho. Em 1950, essa proporção era de 25,3 por cento. Outras faixas etárias registraram ganhos semelhantes.

O aumento da participação na força de trabalho deu às mulheres casadas os recursos financeiros para exigir uma posição mais igualitária na sociedade. Não é por acaso que o movimento pelos direitos das mulheres e o movimento pelos direitos civis em geral tenham se fortalecido em meio ao rápido crescimento dos salários e ao baixo índice de desemprego nos anos 1960.

Hoje, um fenômeno semelhante parece estar acontecendo. Nos últimos dois anos, a taxa de participação na força de trabalho de mulheres em idade ativa recuperou-se quase completamente da Grande Recessão, enquanto o equivalente masculino continua deprimido.

Coincidentemente - ou não? -, esta melhoria no status de emprego das mulheres correspondeu a uma maior disposição das mulheres para desafiar os abusos no local de trabalho. As dinâmicas sociais subjacentes a esse movimento são, obviamente, complexas. Mas, se um dos fatores que impedem as mulheres de falar é o medo de perder o emprego ou de prejudicar sua carreira, então um mercado de trabalho forte pode ajudar. Ele não pode eliminar essas ameaças, mas pode suavizá-las.

O Fed pode apoiar o crescente empoderamento das mulheres trabalhadoras, que está afetando a classe trabalhadora e as mulheres profissionais, permitindo que o mercado de trabalho continue a se estreitar. Esta é mais uma questão que o Comitê Federal de Mercado Aberto deveria levar em consideração nesta semana.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial nem da Bloomberg LP e de seus proprietários.