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Degustação de vinho Madeira de 172 anos é experiência única

Elin McCoy

15/10/2018 13h58

(Bloomberg) -- Em uma adega fria no Bronx, duas semanas atrás, um famoso vinicultor português retirou rolhas antigas de garrafões de vidro de 19 litros de vinho Madeira do século 19. E ainda dava para consumir aquele vinho? O vinho Madeira envelhece mais tempo do que outros vinhos, mas será que sobrevive mais de 150 anos?

Não vou manter o suspense. Surpreendentemente, a resposta foi sim.

Um garrafão continha um vinho Madeira sercial seco de 1846. Seco, picante, ácido e saboroso, tinha uma acidez penetrante e aromas frescos e picantes que permaneceram até mesmo em uma taça vazia. Outro vinho da mesma época, um verdelho meio seco de cor âmbar, tinha aroma de damasco, tabaco e pétalas de rosa e ainda apresentava um frutado opulento com várias camadas que fazia você querer beber mais um gole. E ambos os vinhos têm mais de 170 anos.

Eles vêm de uma coleção de vinhos Madeira dos séculos 18 e 19 que foi descoberta no ano passado durante uma reforma do Liberty Hall Museum em Nova Jersey. E, em 7 de dezembro, a Christie's vai oferecê-los junto com algumas garrafas de tamanho normal de vinho Madeira que datam de 1796, em uma venda em Nova York.

Descoberta

O Liberty Hall, construído originalmente em 1772, foi ampliado e transformado em uma residência com 50 quartos pela famosa família Kean, ativa politicamente e proprietária do imóvel desde 1811. Quando John Kean Sr. herdou a casa, há 12 anos, ele começou a transformá-la no museu que atualmente dirige.

No ano passado, durante uma reforma, foi descoberta no sótão uma das maiores coleções de vinhos Madeira dos séculos 18 e 19 nos EUA, atrás de uma parede em uma adega suja e repleta de teias de aranha. A coleção continha cerca de 42 garrafões e umas duas dúzias de garrafas de Lenox Madeira, importadas pelo falecido Robert Lenox em 1796, e provavelmente escondidas durante a Lei Seca. Algumas estavam vazias, outras não.

"Eu sabia que o vinho se deteriorava em ambientes quentes, por isso supus que o vinho dos garrafões estaria estragado por ter passado tantos anos no sótão", admite Kean. "Eu estava pronto para dá-lo aos funcionários para fabricar lâmpadas".

Felizmente, um jovem guia do museu procurou no Google informações sobre vinhos Madeira antigos e sobre alguns dos nomes nas garrafas e acabou convencendo Kean de que eles poderiam ter algum valor.

É aí que entra a Christie's. Quando a casa de leilões soube da descoberta, Edwin Vos, diretor de vinhos da Christie's para a Europa e especialista em vinhos Madeira, fez uma visita e, entusiasmado, propôs um leilão. "Não existem muitos vinhos Madeira antigos disponíveis", disse ele. "E pode-se dizer que este é o vinho fino mais subestimado do mundo." Alguns foram oferecidos no primeiro leilão da Christie, em 1766.

Antigamente, o vinho Madeira era uma bebida de prestígio para americanos ricos. Supostamente, foi usado no brinde em comemoração da assinatura da Declaração da Independência e era popular em Washington muito antes que o bourbon se tornasse a bebida favorita dos congressistas.