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Testemunha revela táticas de 'cartel' do mercado de câmbio

Lananh Nguyen e Bob Van Voris

16/10/2018 15h08

(Bloomberg) -- Mesmo depois que operadores de câmbio do Reino Unido que formavam um grupo conhecido como "O Cartel" começaram a perceber que suas conversas online estavam sendo monitoradas, eles não pararam de conspirar para manipular os mercados, segundo depoimento de um deles a um júri federal em Manhattan.

Matt Gardiner, que já trabalhou como operador de câmbio para Barclays e UBS Group, decifrou para os jurados transcrições de mensagens e telefonemas gravados, incluindo comunicação feita em 2012 e 2013, quando o setor bancário de Londres só falava sobre o escândalo envolvendo manipulação de taxas de juros de referência.

"Para fins de compliance, nenhuma conspiração acontece aqui hahahaha" foi o que Richard  Usher, que era operador do JPMorgan Chase, escreveu em julho de 2012 em um grupo de mensagens instantâneas do qual participavam o próprio Gardiner, Rohan  Ramchandani (que era operador do Citigroup) e Christopher  Ashton (que era chefe de negociação de câmbio à vista do Barclays).

O julgamento dos acusados de manipular o mercado de câmbio - que movimenta US$ 5,1 trilhões por dia - entrou na segunda semana em Nova York. Na segunda-feira, Gardiner esclareceu aos jurados o significado das mensagens e conversas por telefone entre o grupo, marcadas por referências à série de filmes Star Wars, a um programa infantil de televisão da BBC e trocadilhos típicos da classe operária londrina, o chamado Cockney.

Sobre uma troca de mensagens, Gardiner explicou que um dos operadores tinha uma posição aberta de 625.000 euros (US$ 724.000) - no código deles, um macaco (500.000 euros) e metade de um chimpanzé (125.000 euros).

Advogados da defesa, que questionaram a credibilidade de Gardiner, terão a oportunidade de interrogá-lo nesta terça-feira.

Os profissionais discutiam seus interesses e posições em grupos de mensagem instantânea antes da definição de preços de referência em Londres, relatou Gardiner. Em algumas ocasiões, eles armavam operações em equipe para tentar mover os preços em uma mesma direção ou deixavam de agir para evitar que parceiros perdessem.

Às vezes, os "astros se alinhavam", segundo a testemunha, e os interesses deles e as ordens dos clientes apontavam na mesma direção.

Segue uma troca de mensagens de 2008:

Ramchandani: "É excelente, acho que estamos nos ajudando mutuamente"

Usher: "Melhor dia até onde posso me lembrar" "E eu devo tudo a você"

Ramchandani: "Eu também estou tendo a melhor semana da vida"

A decisão judicial provavelmente dependerá do que acontecerá quando Gardiner for confrontado pela defesa.

Ele fez acordo de delação premiada com a promotoria e não será processado. Advogados de defesa tentarão convencer os jurados a não acreditar no que ele diz.

Na abertura do julgamento, advogados dos acusados afirmaram que participar de grupos de mensagens não é ilegal e faz parte da rotina de trabalho dos operadores, com a finalidade de realizar acordos, trocar informações e piadas e construir relacionamentos.

Gardiner é uma "testemunha com profundos defeitos", que não passará um dia na prisão por causa do acerto com a promotoria, disse a advogada de defesa de Ramchandani, Heather Tewksbury, aos jurados na semana passada.

Quando o departamento de compliance do Barclays proibiu Ashton de participar de grupos de mensagens com vários bancos, ele saiu do grupo em agosto de 2012.

Usher comentou o ocorrido dando a entender que um dos aliados havia caído em combate.