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Peças de carro elétrico mostram sacadas e erros de Elon Musk

David Welch

17/10/2018 14h33

(Bloomberg) -- Técnicos que passaram 6.600 horas dentro de um galpão ao norte de Detroit dissecando um Model 3 têm boas e más notícias para a Tesla. A companhia pode se gabar de oferecer a melhor tecnologia para um carro elétrico e margem de lucro potencial de fazer inveja à maioria das montadoras. No entanto, está desperdiçando essa vantagem com despesas para compensar falhas de design e estrutura fabril inchada.

Sandy Munro, fundador de uma consultoria que desmonta carros novos peça por peça chamada Munro & Associates, concluiu que o Model 3 custa aproximadamente US$ 2.000 a mais do que um BMW vendido a preço semelhante e talvez tenha mais problemas de custo na fábrica. Alguns compactos e sedãs produzidos por montadoras tradicionais não chegam a gerar lucro total de US$ 2.000 por veículo.

Muitos dos problemas são consequência das escolhas nada convencionais do presidente da Tesla, Elon Musk. "Se o carro fosse fabricado em qualquer outro lugar e Elon não fizesse parte do processo fabril, eles ganhariam muito dinheiro", disse Munro. "Elesestão aprendendo com os erros antigos que todo mundo cometeu anos atrás." Munro declara admiração pela tecnologia da Tesla e por isso enviou sem cobrar à companhia uma lista com 227 sugestões de melhorias.

Uma questão é a esquadria de aço e alumínio sob o carro, instalada para aumentar a segurança. A bateria já fica no piso do veículo, causando rigidez, segundo Munro, de modo que a Tesla tornou o carro mais pesado e caro sem obter muito benefício.

Já o porta-malas de alumínio é composto por diversas peças conectadas por rebites e soldas, enquanto outras montadoras preferem um porta-malas de fibra de vidro mais leve e barato.

O compartimento da roda traseira do Model 3 também tem nove peças de metal rebitadas, seladas ou soldadas. No carro elétrico Bolt, da Chevrolet, vai apenas uma peça estampada de aço."A carroceria é o maior problema", disse Munro. "Está acabando com eles."

A Tesla se recusou a comentar, mas citou um comunicado divulgado em abril, no qual afirmava que a linha Model 3 melhorou desde a visita de Munro. "Refinamos significativamente nossos processos desde então e, embora sempre haja espaço para aprimoramento, nossos dados já mostram que a qualidade do Model 3 está melhorando rapidamente."

A equipe de Munro avalia que o Model 3 tem potencial para gerar margem bruta de lucro de 30 por cento na versão completa e 10 por cento nas versões mais baratas. Ficar aquém disso ameaçaria a meta de Musk de gerar lucro e caixa nesta segunda metade do ano, após uma perda operacional de US$ 1,2 bilhão no primeiro semestre.

O processo fabril da Tesla teria se beneficiado de uma abordagem mais convencional, porém a empresa tem vantagem em tecnologia. A bateria de75 quilowatt-hora do Model 3 faz 500 quilômetros com uma carga ? cerca de 110 quilômetros a mais do que o Bolt da Chevrolet e o triplo do BMW i3. A bateria da Tesla custa no mínimo US$ 13.000, pela estimativa de Munro, ou US$ 1.000 mais que a do Bolt.

Além de ir mais longe com uma carga, o Model 3 tem um motor elétrico avançado que permite velocidade maior. O motor da Tesla custa US$ 754 e o do Bolt, US$ 836. "Esse motor elétrico muda o jogo", disse Munro. "Todo mundo deveria usar como referência."

O software e os recursos eletrônicos também são superiores, empregando conhecimento do Vale do Silício que as montadoras não têm. A dificuldade agora é transformar essa vantagem tecnológica em lucros consistentes. Para isso, Musk precisa contratar executivos com experiência em fabricação de automóveis. Se fizer isso, Munro acha que Musk "não está longe de ganhar dinheiro".