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Aramco do urânio revela IPO em Londres apesar de ameaça de Trump

Jack Farchy, Nariman Gizitdinov e Thomas Biesheuvel

22/10/2018 16h19

(Bloomberg) -- A abertura de capital da maior petroleira do mundo, a Saudi Aramco, pode ter sido engavetada, mas a IPO de sua equivalente do mercado de urânio avança a todo vapor.

A Kazatomprom, a maior produtora mundial do combustível nuclear, anunciou nesta segunda-feira que negociaria uma participação de até 25 por cento em Londres e na capital do Cazaquistão, Astana.

A possível abertura de capital de uma empresa que responde por um quinto da oferta global de urânio oferece um raro vislumbre de um setor dominado por gigantes estatais, da francesa Orano à russa Rosatom. A Kazatomprom, de propriedade do governo do Cazaquistão, é a primeira grande IPO de uma série de privatizações planejadas.

"Maior produtora de urânio, maior base de reservas, menor custo unitário e menor impacto ambiental. Com isso, estamos bastante confiantes de que somos um caso único", disse o CEO da Kazatomprom, Galymzhan Pirmatov, em entrevista à Bloomberg Television, nesta segunda-feira.

A empresa, cujos ativos remontam ao surgimento da indústria soviética de energia nuclear, na década de 1950, ofereceu uma visão sem precedentes de seus negócios em um documento de registro de 689 páginas antes da possível operação.

"Isso é extremamente significativo para o setor", disse Rob Crayfourd, gerente de portfólio do fundo especializado em urânio Geiger Counter. "Isso torna o setor mais transparente."

A imagem nem sempre é bonita: a indústria global do urânio sofre grande pressão desde o desastre de Fukushima, em 2011, que desencadeou um distanciamento da energia nuclear em todo o mundo e vários anos de queda nos preços do urânio.

Uma medida importante do lucro da Kazatomprom -- lucro atribuível ajustado antes de juros, impostos, depreciação e amortização -- caiu 30 por cento em 2017 e outros 30 por cento no primeiro semestre deste ano.

Além disso, o urânio é o foco de uma investigação do governo Trump que poderia estender ao combustível nuclear as tarifas já impostas às importações de alumínio e aço. O sentimento dos investidores em relação às empresas da antiga União Soviética é instável devido à expectativa de novas sanções dos EUA à Rússia. Em seu documento de registro para a IPO, a Kazatomprom destacou a relação com a russa Rosatom, que não está sob sanção, como fator de risco.

"Mesmo que as tarifas estejam chegando, não esperamos efeitos significativos para nossa empresa", disse Pirmatov. "Dependendo de quais medidas o governo dos EUA tomará, o mercado obviamente será afetado."

O Cazaquistão é "aliado estratégico" de Washington, disse o CEO, acrescentando que menos de 10 por cento da produção da empresa é vendida para os EUA.

Alta dos preços

A Kazatomprom anunciou cortes de produção no começo e no fim de 2017, na tentativa de deter a queda dos preços. Neste terceiro trimestre, a empresa também decidiu vender mais de um quarto da produção de 2018 a um veículo de investimento em urânio recém-formado, o Yellow Cake.

Essa abordagem ajudou a gerar uma alta de mais de 30 por cento nos preços do urânio desde a baixa de abril. O Cazaquistão responde por dois quintos da produção global de urânio.

--Com a colaboração de Francine Lacqua.

Repórteres da matéria original: Jack Farchy em Londres, jfarchy@bloomberg.net;Nariman Gizitdinov em Almaty, ngizitdinov@bloomberg.net;Thomas Biesheuvel em Londres, tbiesheuvel@bloomberg.net