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Eletrificação não é panaceia para aquecimento global, diz AIE

Jeremy Hodges

13/11/2018 11h51

(Bloomberg) -- Dirigir carros elétricos e aposentar a caldeira a gás natural não reduzirá as emissões globais de carbono e pode até aumentar os níveis de poluição.

A eletrificação maior pode fazer a demanda por petróleo atingir o pico em 2030, mas qualquer redução nas emissões obtida, por exemplo, com os veículos elétricos será compensada pelo aumento do uso de usinas elétricas para recarregá-los, segundo a World Energy Outlook (Perspectivas para a Energia Mundial), uma publicação anual da Agência Internacional de Energia que traça diferentes cenários para o uso futuro da energia.

Para reduzir significativamente a poluição prejudicial até 2040, a eletrificação terá que fazer parte de um abrangente pacote de políticas para reduzir as emissões de carbono do setor de energia e melhorar a eficiência energética, informou o órgão com sede em Paris que assessora países em termos de política energética.

O clamor por uma ação global para redução drástica das emissões atingiu ponto de febre nos últimos meses após a publicação de um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) defendendo investimento anual de US$ 2,4 trilhões em energia limpa para evitar danos irreversíveis ao mundo. Uma crença comum é que a eletrificação dos sistemas de transporte e aquecimento será de grande importância para cumprir as rigorosas metas para a poluição estabelecidas no Acordo de Paris de 2015.

"A eletrificação é parte necessária de uma profunda descarbonização porque é relativamente fácil descarbonizar o setor de energia", disse Lauri Myllyvirta, analista sênior da unidade de poluição do ar do Greenpeace. "Mas a eletrificação só ajuda se o setor de energia avançar rapidamente rumo à emissão zero."

Desde a virada do século, as emissões de dióxido de carbono das distribuidoras de eletricidade cresceram a uma média de 2,3 por cento ao ano e as usinas movidas a carvão são as maiores culpadas, informou a AIE. No entanto, o ritmo de crescimento está perdendo força porque há mais eletricidade devido à expansão dos mercados de energia renovável e à melhora da eficiência das usinas produtoras de combustíveis fósseis.

A produção global total de dióxido de carbono subiu 1 por cento no ano passado e a AIE estima que atingirá uma alta recorde em 2018.

A oportunidade para eletrificação é surpreendente. Dos 19 por cento de hoje, o consumo final total de energia pode chegar a 65 por cento à medida que políticas de eletrificação do transporte e do aquecimento entrarem em vigor em todo o mundo.

A energia renovável está fazendo sua parte e as fontes eólica e solar atualmente fornecem 6 por cento da geração de eletricidade global, contra 0,2 por cento em 2000. O investimento no setor energético atingiu US$ 750 bilhões em 2017, mais do que o investimento em petróleo e gás pelo segundo ano consecutivo, informou a agência.

"Se o mundo pensa seriamente em cumprir as metas climáticas, então a partir de hoje é preciso que haja uma preferência sistemática por investimentos em tecnologias de energia sustentável", disse Fatih Birol, diretor-executivo da AIE. "Para que haja sucesso, será necessário um esforço político e econômico global sem precedentes."