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Netflix, Amazon e Fox disputam mercado indiano `louco por filme'

Saritha Rai

14/11/2018 16h32

(Bloomberg) -- Meghal Karekar está viciado em assistir vídeos no smartphone, um vício compartilhado com 200 milhões de outros indianos e que é motivo de disputa entre as grandes empresas internacionais de streaming.

"Aonde quer que eu vá durante meu dia de trabalho, todo mundo - os seguranças nos escritórios dos clientes, as recepcionistas, as pessoas que esperam o elevador - está de cabeça baixa e com fone de ouvido", disse Karekar, 56, um arquiteto de Bangalore. "A Índia sempre foi louca por filmes, mas o celular está levando essa paixão pela tela a outro nível."

Com o aumento da adoção de smartphones, junto com as redes capazes de transmitir vídeos de alta qualidade, o mercado indiano está tendo um crescimento explosivo que atrai todos, da Netflix a Jeff Bezos, passando por Rupert Murdoch. Eles estão criando programação original, desenvolvendo conteúdo em idiomas locais e ajustando suas estratégias de preços no país de 1,3 bilhão de pessoas para convencer os consumidores a pagar por seus serviços.

Apesar de ter sido avaliado em apenas 21,5 bilhões de rúpias (US$ 296 milhões) no ano fiscal terminado em março, o mercado indiano de serviços de transmissão de vídeo deve crescer 45 por cento ao ano até 2023, segundo a KPMG. Em comparação, a Netflix, que obtém cerca de metade de sua receita nos EUA, deve gerar cerca de US$ 15 bilhões em vendas neste ano.

Neste momento, a liderança é da Hotstar, parte da 21st Century Fox de Murdoch, por ter os direitos de transmissão de críquete. Mas o Prime Video, da Amazon, e a Netflix estão investindo para conquistar usuários.

"Prime Video é para a Índia o que o envio no mesmo dia ou no dia seguinte é para os EUA", disse Amit Agarwal, chefe da Amazon na Índia, em entrevista. "É um mercado único com 700 milhões de usuários de telefone."

A gigante do comércio eletrônico de Bezos tem 30 programas originais em diferentes estágios de produção e muitos deles vão estrear no próximo ano. "Nosso conjunto de programas em produção é maior que o de qualquer outra empresa", disse Agarwal.

Não é apenas o grande número de pessoas que atrai as empresas de streaming, é o envolvimento delas com seus telefones. Os indianos estão assistindo conteúdo de vídeo digital por uma média de 8 horas e 28 minutos por semana, mais do que a TV, com um aumento de 58 por cento em relação a 2016, segundo um estudo da Limelight Networks.

Para a Netflix, que está em quase metade dos lares nos EUA, a Índia pode ser a chave para a expansão internacional através dos próximos 100 milhões de novos assinantes. O CEO Reed Hastings reconhece que a Índia é um mercado difícil e que não será fácil conquistar esses novos usuários.

"Na Índia, para ser um produto massivo, é preciso estar em 20 idiomas e também fazer certos tipos de conteúdo", disse Hastings em uma entrevista. "Nosso alvo são pessoas abastadas que se sentem à vontade com o entretenimento em inglês."

Hotstar, que oferece uma combinação de conteúdo gratuito e premium, registrou mais de 300 milhões de downloads de seu aplicativo, já que o esporte mais popular do país é um apelo sedutor. Depois que a Fox pagou a impressionante quantia de US$ 2,5 bilhões, em setembro do ano passado, pelos direitos televisivos e digitais dos próximos cinco anos da Indian Premier League de críquete, o serviço começou a cobrar por essas transmissões. Neste ano, o serviço bateu o recorde de maior público digital para um evento esportivo.

Sem críquete, a Netflix e a Amazon estão concentradas em construir suas bibliotecas com programas de TV e filmes. A Amazon tem conteúdo em seis idiomas regionais indianos, além do hindi.

Mas isso não desanimou a Netflix, que dobrou seu catálogo na Índia desde que foi lançada em 2016. "Jogos Sagrados", um thriller original ambientado em Mumbai, estreou no terceiro trimestre. Em 9 de novembro, a empresa com sede em Los Gatos, na Califórnia, anunciou oito novos filmes e um seriado original da Índia, metade do total dos novos programas para a Ásia.

Por enquanto, na disputa entre as empresas internacionais, quem ganha é o telespectador. "Com tanta variedade, os indianos comuns podem escapar do tédio da vida cotidiana em nossas cidades", disse Karekar.

--Com a colaboração de Lucas Shaw.